25 junho 2012
23 junho 2012
Defesa e aproveitamento dos recursos endógenos
A linha do caminho-de-ferro do Pocinho a Barca
d'Alva
Presidente da Assembleia Geral da "Foz Côa Friends, Associação"
"Os territórios de baixa densidade são em regra espaços que se debatem com muitas dificuldades, mas que, simultaneamente, têm um conjunto de potencialidades que podem ser aproveitadas para a criação de emprego e de valor".
In "PROVERE, Programas de
Valorização Económica de Recursos Endógenos, Das ideias à acção: Visão e
Parcerias", DEPARTAMENTO DE PROSPECTIVA E PLANEAMENTO E RELAÇÕES
INTERNACIONAIS, Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do
Desenvolvimento Regional, página 4, 2008.
………………..
A importância que as redes
sociais de informação vêm assumindo no seio da sociedade, designadamente o
Facebook, esteve na origem de mais uma nova associação cultural, a "FOZ
CÔA FRIENDS", tendo em conta a versatilidade da comunicação entre naturais
e amigos do concelho que residam em qualquer parte do mundo.
O aparecimento da página Foz Côa
Friends na rede social do Facebook teve o condão de reunir no mesmo espaço
fozcoenses ou simples amigos do concelho, que a princípio apenas procuravam
trocar informações de vária índole sobre o concelho de Foz Côa, mas que bem
depressa sentiram a necessidade de criar uma associação que englobasse residentes
e emigrantes, um pouco por todo o mundo, no mesmo espírito comum — procurar soluções para melhorar as condições
culturais e vivenciais de todos os fozcoenses. E assim nasceu a Associação
dos Amigos do Concelho de Vila Nova de Foz Côa, Foz Côa Friends, nome pelo qual
já era conhecida a página do Facebook e que já se entrosara nas veias da
comunicação social. Evitando sobrepor-se às associações já existentes, a Foz Côa
Friends deseja ser uma voz activa, inovadora e crítica, quer ao nível da necessidade
de criação de estruturas essenciais ao desenvolvimento cultural, quer ao nível
da criação e sustentabilidade das redes de apoio e animação cultural, sempre
com o objectivo de contribuir para o desenvolvimento social, cultural e
económico do concelho de Vila Nova de Foz Côa. Daqui, a prioridade à defesa do
património construído, à potencialização dos recursos endógenos, à divulgação e
sobretudo à necessidade de criação de infra-estruturas que possibilitem estes
desideratos.
O encerramento do troço da linha
de caminho-de-ferro entre o Pocinho e Barca d' Alva (1985), nos tempos em que a
desertificação do Interior se acentuou, marcou uma das muitas e graves contradições:
tornava-se o Douro navegável, do Porto à raia castelhana, mas truncavam-se os
últimos vinte quilómetros da centenária linha entre o Pocinho e Barca d'Alva,
como se o Douro morresse ali mesmo na reviravolta do monte Meão! Contudo, entre
1985 e 2012, muita água correu no Douro e, embora a desertificação tenha
aumentado, muitas novidades soçobraram no espaço edílico entre o Pocinho e a
raia castelhana! Desde logo, a descoberta das gravuras rupestres do Côa que em
menos de dois anos conquistaram o título de Património da Humanidade da UNESCO,
e que em 1996 deram origem ao Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), por
onde a linha de caminho-de-ferro, actualmente abandonada, percorre cerca de
vinte quilómetros!
O Museu do Côa (apenas a 500 metros da foz do rio Côa), sobranceiro à edílica paisagem do Douro; em baixo, a via-férrea (ao abandono) |
E não demorou a ser inaugurado o já célebre Museu do Côa, construído a cerca de quinhentos metros da linha-férrea, sobranceiro à confluência do Côa com o Douro e que empresta à paisagem uma soberba arquitectura, enquadrada no monte como se tratasse de um monumento milenar que aí fosse edificado pelos gloriosos arquitectos da História pré-clássica. Hoje em dia, sobem o rio Douro, da Foz à Barca, mais de duzentos mil visitantes por ano, que desfrutam uma paisagem edílica, das mais belas do mundo! Todo o percurso da linha férrea, desde a Foz do Douro à fronteira de Espanha é de um encanto sem par: vales prolongados, encostas socalcadas de vinhas, tornadas jardins, declives abruptos onde nidificam o grifo, a águia-real, o abutre do Egipto, túneis abertos na própria rocha, onde a linha desaparece por momentos... Todo o percurso é de inigualável beleza, onde a variedade e a imponência arrebatam os sentidos do visitante. E se é certo que até ao Pocinho, a viagem é extremamente bela, mais bela se torna na subida, daqui para Barca d'Alva, onde o rio se espraia numa paisagem agreste e original, pura e vernácula, com os olivais, os amendoais e as vinhas novas reflectidos no espelho das águas do Douro, avantajadas pela albufeira do Pocinho. Não é por acaso que as equipas olímpicas de remo do norte da Europa demandam estas paragens para os seus treinos intensivos e não é também por acaso que se encontra em construção no Pocinho um dos melhores Centros de Alto Rendimento de Remo a nível europeu!
Paisagem sobre o Douro e o Côa |
Negar a viagem de comboio do Pocinho a Barca d' Alva é o mesmo que cortar o viçoso tronco da vide duriense, negando-lhe a vida que gera um dos mais famosos vinhos do mundo!
Talvez por todas estas razões e não só, a primeira acção interventiva da Foz Côa Friends, Associação, recentemente criada, foi precisamente a promoção e a execução do I Passeio Pedonal pela linha abandonada, entre o Pocinho e a estação do Côa, do qual resultou, além de um saudável convívio, a manifestação pública para a reabertura do troço da linha, num grito de alerta para que quem de direito olhe para o Interior e invista nos verdadeiros recursos endógenos, para que a sua valorização não fique apenas no papel.
A apetência turística do vale do Douro é comprovada por vários organismos nacionais e estrangeiros, dos quais se destaca o Centro Mundial de Destinos Turísticos de Excelência (CED), com sede em Montreal, no Canadá, que desenvolveu no Douro um sistema de medição das suas potencialidades, considerando a região duriense como "um lugar cimeiro no cartaz das melhores regiões turísticas do Planeta". Que mais argumentos serão precisos para que a linha do Douro seja reaberta até Barca d'Alva? É que, para além de proporcionar e completar a viagem em comboio, permitirá também o acesso ao futuro cais fluvial do Côa e deste ao Museu e às gravuras rupestres da Canada do Inferno, da Ribeira de Piscos e do Fariseu, subindo o rio Côa em pequenas embarcações, como já se vai fazendo, periodicamente, em visitas nocturnas!
Mas também não é de descartar a hipótese da reabertura da linha internacional, a partir de Barca d'Alva para a região de Castela e Leão, como é vontade expressa de várias associações castelhanas e do próprio governo regional. A Europa comunitária está a repensar a sua política de transportes, fomentando o transporte ferroviário de longa escala, como já vai acontecendo na vizinha Espanha. Mas deixemos os argumentos técnicos para os peritos nestas matérias, sendo que já muitos se manifestaram neste sentido.' (1)
I Passeio pedonal na linha abandonada promovido pela Foz Côa Friends |
Pesem embora as nuvens negras que pairam sobre a linha do Douro (2), a sua reactivação como linha internacional não é uma quimera, nem tão pouco um bairrismo ou uma teimosia imprópria para tempos de crise! Foram os próprios responsáveis políticos que o afirmaram em várias ocasiões e cerimónias públicas, como o Convénio de Barca d'Alva, realizado em 9 de Dezembro de 2007, no qual responsáveis portugueses e espanhóis do governo central, regional e local reconheceram a importância do troço do Pocinho a Barca d'Alva e assinaram um compromisso de reactivação do mesmo, bem como o Protocolo do Pocinho, efectuado em 10 de Setembro de 2009, assinado entre a então Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, representantes das autarquias locais e organismos regionais, pelo qual o governo português se decidia pela reconstrução da linha do Pocinho a Barca d'Alva, atribuindo-lhe a dotação orçamental de vinte e cinco milhões de euros. (3)
Panorâmica da cidade e do Museu do Côa |
A região do Douro e
designadamente o território do vale do Côa tem sido apontado como zona de
elevada capacidade de desenvolvimento económico, social e cultural, facto
abundantemente argumentado por vários estudos já publicados, dos quais se
destacam "o Plano Estratégico de
Promoção Turística do Vale do Côa", trabalho executado pela equipa
liderada pelo Professor Augusto Mateus (4) e por este apresentado no Centro
Cultural de Vila Nova de Foz Côa, em 7 de Julho de 2009 ou o trabalho mais
específico liderado por António Cunha Abrantes, promovido pela Associação de
Municípios do Vale do Côa, "Estratégia
de Eficiência Colectiva PROVERE, Turismo e Património no Vale do Côa",
2009. São apenas dois exemplos de estudos sobre as potencialidades da região do
Vale do Côa, comprovadas científica e tecnicamente e que esperam apenas que
sejam aproveitadas.
O momento de crise económica e
financeira que o país e a Europa atravessam não poderá servir de desculpa para
o abandono de investimentos, sobretudo nas zonas comprovadamente capazes de
gerar riqueza, emprego e solidariedade! Por isso é justo e racional encarar-se
de frente a possibilidade de reinvestimento no transporte ferroviário de longo
curso, que no caso do Douro/Côa em muito contribuiria para o desenvolvimento
económico do Alto Douro Vinhateiro, do Vale do Côa e do incremento dos
transportes de passageiros e mercadorias, ligando Porto/Matosinhos a Salamanca
e daqui ao resto da Europa, como em tempos já ligou e do qual nos fala o
imortal Eça de Queiroz em "As Cidades e as Serras"! É preciso
reinverter a desertificação do Interior, procurando valorizar e dinamizar os recursos
endógenos, possibilitando a fixação das populações e o regresso "à terra"
e "às origens" de tantos milhares que nestas últimas décadas
emigraram quase sem destino! É preciso reinventar e promover as riquezas
vernáculas, os produtos agrícolas, artesanais, agro-pecuários! Precisamos de
uma acção globalizante, coordenada, planificada e tecnicamente implementada e
acompanhada para que o território do Vale do Côa, possuidor de tantas
capacidades e estruturas, possa atrair turismo classificado, promova o
desenvolvimento cultural e económico e proporcione às gentes do Vale do Côa o
progresso que o povo e o país merecem! A reabertura do troço ferroviário
Pocinho--Barca d'Alva, utilizado na forma de passeios turísticos (exemplo do
comboio histórico) ou como transporte de passageiros e mercadorias de longo
curso, unindo o centro da Europa, a região de Castela e Leão, o Alto Douro e o
porto de Matosinhos, é sem dúvida um projecto estruturante que pode, com toda a
justiça, figurar como uma das principais estratégias dos Projectos Âncora de
qualquer "provere", permitindo:
Dinamizar o
Museu do Côa e o Parque Arqueológico (PAVC).
Criar o eixo
de desenvolvimento territorial "Grande Porto, Alto Douro, Côa e
Salamanca".
Contribuir
para o incremento da malha de empreendimentos turísticos do Vale do Côa e da
sua animação turística.
Afinal a linha, mesmo que
abandonada, já existe há mais de um século e renová-la não traria altos
encargos, como já foi amplamente provado por vários economistas da especialidade;
não feriria a paisagem ou a natureza, nem o ambiente "arqueológico"
do Parque do Côa e transformar-se-ia na única via directa de transporte de
passageiros e mercadorias desde o coração do Alto Douro e do Vale do Côa até ao
planalto castelhano (Salamanca) (5), encurtando a distância de duzentos para
pouco mais de cem quilómetros entre estas regiões. A reabilitação do troço
entre o Pocinho e Barca d'Alva enquadra-se perfeitamente na Estratégia de Eficiência
Colectiva (EEC) do PROVERE do Vale do Côa e contribuirá, sem qualquer dúvida,
para a "estruturação de um tecido económico mais dinâmico e
competitivo", "assegurará a melhoria da qualidade de vida" e
"contribuirá para travar a perda de densidade populacional e económica da
região do Vale do Côa".
A região do Douro e
designadamente o território do vale do Côa tem sido apontado como zona de
elevada capacidade de desenvolvimento económico, social e cultural, facto
abundantemente argumentado por vários estudos já publicados, dos quais se
destacam "o Plano Estratégico de
Promoção Turística do Vale do Côa", trabalho executado pela equipa
liderada pelo Professor Augusto Mateus (4) e por este apresentado no Centro
Cultural de Vila Nova de Foz Côa, em 7 de Julho de 2009 ou o trabalho mais
específico liderado por António Cunha Abrantes, promovido pela Associação de
Municípios do Vale do Côa, "Estratégia
de Eficiência Colectiva PROVERE, Turismo e Património no Vale do Côa",
2009. São apenas dois exemplos de estudos sobre as potencialidades da região do
Vale do Côa, comprovadas científica e tecnicamente e que esperam apenas que
sejam aproveitadas.
O momento de crise económica e
financeira que o país e a Europa atravessam não poderá servir de desculpa para
o abandono de investimentos, sobretudo nas zonas comprovadamente capazes de
gerar riqueza, emprego e solidariedade! Por isso é justo e racional encarar-se
de frente a possibilidade de reinvestimento no transporte ferroviário de longo
curso, que no caso do Douro/Côa em muito contribuiria para o desenvolvimento
económico do Alto Douro Vinhateiro, do Vale do Côa e do incremento dos
transportes de passageiros e mercadorias, ligando Porto/Matosinhos a Salamanca
e daqui ao resto da Europa, como em tempos já ligou e do qual nos fala o
imortal Eça de Queiroz em "As Cidades e as Serras"! É preciso
reinverter a desertificação do Interior, procurando valorizar e dinamizar os recursos
endógenos, possibilitando a fixação das populações e o regresso "à terra"
e "às origens" de tantos milhares que nestas últimas décadas
emigraram quase sem destino! É preciso reinventar e promover as riquezas
vernáculas, os produtos agrícolas, artesanais, agro-pecuários! Precisamos de
uma acção globalizante, coordenada, planificada e tecnicamente implementada e
acompanhada para que o território do Vale do Côa, possuidor de tantas
capacidades e estruturas, possa atrair turismo classificado, promova o
desenvolvimento cultural e económico e proporcione às gentes do Vale do Côa o
progresso que o povo e o país merecem! A reabertura do troço ferroviário
Pocinho--Barca d'Alva, utilizado na forma de passeios turísticos (exemplo do
comboio histórico) ou como transporte de passageiros e mercadorias de longo
curso, unindo o centro da Europa, a região de Castela e Leão, o Alto Douro e o
porto de Matosinhos, é sem dúvida um projecto estruturante que pode, com toda a
justiça, figurar como uma das principais estratégias dos Projectos Âncora de
qualquer "provere", permitindo:
Dinamizar o
Museu do Côa e o Parque Arqueológico (PAVC).
Criar o eixo
de desenvolvimento territorial "Grande Porto, Alto Douro, Côa e
Salamanca".
Contribuir
para o incremento da malha de empreendimentos turísticos do Vale do Côa e da
sua animação turística.
Afinal a linha, mesmo que
abandonada, já existe há mais de um século e renová-la não traria altos
encargos, como já foi amplamente provado por vários economistas da especialidade;
não feriria a paisagem ou a natureza, nem o ambiente "arqueológico"
do Parque do Côa e transformar-se-ia na única via directa de transporte de
passageiros e mercadorias desde o coração do Alto Douro e do Vale do Côa até ao
planalto castelhano (Salamanca) (5), encurtando a distância de duzentos para
pouco mais de cem quilómetros entre estas regiões. A reabilitação do troço
entre o Pocinho e Barca d'Alva enquadra-se perfeitamente na Estratégia de Eficiência
Colectiva (EEC) do PROVERE do Vale do Côa e contribuirá, sem qualquer dúvida,
para a "estruturação de um tecido económico mais dinâmico e
competitivo", "assegurará a melhoria da qualidade de vida" e
"contribuirá para travar a perda de densidade populacional e económica da
região do Vale do Côa".
(1) O troço entre Caíde e Barca D’Alva
representa 77 por cento do total da extensão da linha, configurando, por isso,
um cenário privilegiado para a introdução a médio prazo da bitola europeia, o
que, aliado ao Porto de Leixões e a um porto fluvial no Pocinho a construir,
representaria um importante eixo ferroviário, quer de passageiros, quer de
mercadorias, para o Norte de Portugal, o qual poderia ainda estar ligado às Beiras
via Vila Franca das Naves. Deve-se, por tudo isso, equacionar muito bem qual o
investimento a realizar e a respectiva dimensão, dado ser uma infra-estrutura
que se insere numa região à qual, recentemente, foi-lhe atribuída pela National
Geographic um honroso sétimo lugar nos destinos turísticos sustentáveis a nível
mundial. Mais ainda, no cenário acima proposto, pode bem vir a representar uma
importante alternativa à AV entre Porto e Madrid via Lisboa, quer em tempo,
quer nos custos da respectiva tarifa.
Alberto Aroso, 2009/12/06 (originalmente
publicada no jornal "Público") O troço entre Caíde e Barca D’ Alva
representa 77 por cento do total da extensão da linha, configurando, por isso,
um cenário privilegiado para a introdução a médio prazo da bitola europeia, o
que, aliado ao Porto de Leixões e a um porto fluvial no Pocinho a construir,
representaria um importante eixo ferroviário, quer de passageiros, quer de
mercadorias, para o Norte de Portugal, o qual poderia ainda estar ligado às
Beiras via Vila Franca das Naves. O troço entre Caíde e Barca D’Alva representa
77 por cento do total da extensão da linha, configurando, por isso, um cenário
privilegiado para a introdução a médio prazo da bitola europeia, o que, aliado
ao Porto de Leixões e a um porto fluvial no Pocinho a construir, representaria
um importante eixo ferroviário, quer de passageiros, quer de mercadorias, para
o Norte de Portugal, o qual poderia ainda estar ligado às Beiras via Vila
Franca das Naves.
(2) O
presidente do Turismo do Douro e autarcas da região estão preocupados com o
"abandono "da Linha do Douro e afirmam que a retirada de pessoal da
REFER das estações indicia mais um passo para o seu encerramento. Lusa, 19 de
Março de 2012.
(3) (...)
estamos a falar de 25 milhões de Euros, comparticipados por fundos comunitários
em 60%. (...) aquilo que o Estado tem que pôr, chegando-se à frente, anda à
volta de 9 Milhões de Euros, (...). Agora, compare-se estes 9 Milhões de Euros
com os mais de 700 Milhões que está a custar ao Estado a Auto-Estrada A4, e
ainda mais com a concessão rodoviária Douro-Sul/1P2. (...) E se de facto não se
avança com algo relativamente ao qual o Governo e o Estado se comprometeram,
estando em causa um valor de contrapartida irrisório (que nem dá para construir
2 km de auto-estrada). (...) O que é necessário (e foi já orçamentado em
Espanha), para reabrir Fuente de San Esteban-Fregeneda-Ponte Internacional
sobre o Rio Águeda, está estimado em 80 Milhões de Euros, sem comparticipação;
com comparticipação de fundos transfronteiriços, fica reduzido a cerca de 30
Milhões de Euros, ou seja o equivalente a 6 km de auto-estrada nova na
Província de Salamanca. A reabertura está enquadrada nas medidas do PLan Oeste
do PSOE (...)
Manuel Tão, in Facebook, 25.05.2011
(4) A
respeito da reabertura do troço Pocinho — Barca d'Alva e durante a cerimónia do
Convénio de Barca d'Alva, o Professor Dr. Augusto Mateus, antigo ministro da
economia afirmou: "A verificar-se a revitalização do troço Pocinho e Barca
d'Alva — encerrado desde 1987 — haverá possibilidade de fazer do Douro um
grande projecto de criação de emprego e desenvolvimento económico".
(5) A actual ligação entre o Alto Douro
Superior e Salamanca faz-se através da fronteira de Vilar Formoso numa
distância de cerca de 200 kms.
Artigo publicado na CÔAVISÃO Nº 14 / 2012
Edição Câmara Municipal de V.N. Foz Côa
17 junho 2012
Encerramento de vias férreas versus desertificação
Dir-se-á que é o progresso e que o futuro avança assim, inexoravelmente, espezinhando razões históricas, civilizacionais, ambientais, da economia e dos interesses locais. A questão é que o futuro, em Portugal, tem avançado às arrecuas. Desde a década de 80 do século XX, o encerramento de linhas e troços ferroviários passou a ser uma espécie de desígnio nacional. E, como está bem à vista, não foi por isso que Portugal avançou... a não ser rumo à desertificação. A desertificação do Interior-Norte é directamente proporcional ao desinvestimento em vias-férreas e comboios.
Aliás, o encerramento de linhas de caminho de ferro é apenas um capítulo da mesma política que arrasou outros sectores da economia, da história, da soberania e da vida colectiva portuguesas. Em nome do progresso, deliberadamente, sucessivos governos portugueses desmantelaram sectores imensos de actividade como fossem a marinha mercante, as pescas, a agricultura. E ninguém venha dizer que Portugal ficou mais rico, mais independente ou mesmo mais moderno com tais políticas de terra queimada ou, como também poderá dizer-se aludindo às vias-férreas, políticas de pouca-terra. Poderão esgrimir-se as mais eruditas teorias, as mais modernas correntes de opinião, a mais sonante propaganda. Nada disso altera a realidade que é o empobrecimento, a desertificação e a submissão do País.
A grande questão é que excluindo os grandes interesses plutocráticos, os políticos portugueses não têm em geral qualquer ideia ou projecto sobre o futuro do País. E assim, feche-se, liquide-se, destrua-se, arrase-se. E o Deus dinheiro que reconstrua um país à sua imagem e semelhança.
Fonte: http://economico.sapo.pt/noticias/nprint/78023.html
14 junho 2012
Passeio Pedonal pelos Sítios Arqueológicos de Freixo de Numão
Às sete e meia esperávamos, no Largo da Igreja, os madrugadores dos cinquenta e sete inscritos para o Passeio Pedonal pelos Sítios Arqueológicos de Freixo de Numão.
O tempo amainou a nossa ânsia já que a proximidade levou a que muitos fossem em transporte próprio e outros arranjassem afazeres alternativos. Chegada a hora, partimos, conduzidos pelo amável Tó Zé Carneiro até às Devezas.
Refeito o Grupo, dirigimo-nos para o Alto da Touça onde apeámos e demos corda às sapatilhas. O frenesim do Sá Coixão, mesclado com saber e responsabilidade, qual patriarca, com uma bengala de focinho adunco e intimidativo, tocava o Grupo por razões que só bem mais tarde viemos a constatar – o percurso era longo e não para brincadeiras.
Entrámos no Prazo,
recalcámos pedras há muito calcadas, afagámos a lousa que detonou o achado, a memória da amendoeira cujas raízes se entrelaçavam com ossadas desgastadas pela humidade da terra fria; cada um se detinha onde julgava maior interesse para logo a seguir correr porque a distância já era considerada, aumentando, aumentando a do que nos seguia. A paisagem, mais bela que quadro renascentista, disputava a atenção à arqueologia.
“-Embora! embora!“ ressoava, por entre troncos de carinhosas arvores, o tom firme do Mestre. Seguimo-lo.
A calçada romana apresentava marcas profundas das rodas das carroças no áspero granito de grandes blocos que julgávamos impenetráveis.
Quando as necessidades já apertavam, milagrosas “Latrinas de cu ao léu“ surgiram na curva, onde não faltavam as roliças pedras que avantajavam a lata ou o enigmático papel-higiénico (imagino Caius o Grande a mandar indagar qual a planta que o produz) às amarelecidas folhas de jornal que o sol e a chuva tornaram mais parecido a papiro egípcio.
Aliviados, corremos, corremos e demos razão ao ditado “fica-te a mijar e verás o teu companheiro a andar“; apenas a beleza impetuosa da paisagem nos escutava o passo.
A Organização previu o nosso desejo e, com surpresa, presenteou-nos com tripla oferta; de descanso, de abundante manjar e fresco átrio da Casa Grande. Retemperámos forças, comemos e passámos os olhos sobre a riqueza museológica daquela Instituição.
Talvez por ser tão agradável o momento, pareceu-nos muito curto. O Timoneiro já tocava o barco a caminho do Castelo Velho. Rampa acima, encurtando a distância ora aos da frente ora aos de trás, desfizemos as jovens calorias quase sem tempo de se afazerem aos receptores.
À chegada àquele alto, mais elevado ainda pela torre de vigia, à qual nos foi facultado o acesso, era deslumbrante a paisagem, cada uma pedindo meças à anterior, consoante o ângulo visual; logo ao lado, as ruínas do Castelo Velho lembram-nos os tempos idos em que foi habitado e os recentes, em que grupos de jovens, tisnados pelo sol brincalhão, orientados pelo energético Sá Coixão, escavaram apertadas terras na ânsia de que algo lhes viesse ter às mãos.
Quando descemos, novo repasto se nos deparou, adornado pelo sorriso dos incansáveis colaboradores; Se eu soubesse já tinha descido há mais tempo. “Fizemos-lhes o favor“ de reduzir a carga, comendo e bebendo para retemperar forças, desconhecendo o que nos estava destinado.
A voz retumbante soou nos ares: “Vamos, vamos.”, era inconfundível; não só a voz como o exemplo; passo estugado que rapidamente aumentava a distância. O General comandava as hostes. Por mim, fazendo parte dos últimos, ouvia as explicações certeiras do Brigadeiro Carlos Alves que, carinhosamente, nos aturava e ultrapassava, como que adivinhando, a nossa curiosidade. Rapidamente divisámos um vale, com uma casa maior e um correr de outras mais baixinhas, em escombros, que nos foram indicadas como as habitações das minas de volfrâmio dos Sobradais.
Na maior, no andar superior vivia “o alemão“ e eram os escritórios; na parte inferior era o depósito do minério; nas casas baixinhas viviam os operários e os guardas; todos Portugueses que, naquele caso, trabalhavam para o alemão. Os nossos Amigos José Frade Costa e Joaquim Moreira conheceram as minas em laboração e deleitaram-nos com os pormenores.
Mantém-se ainda uma galeria aberta, agora com água e vedada com rede; mais além, um grande tanque onde lavavam o minério. Mais além?!, não, tenho que ir ver; e fui; fiquei para trás mas vi e fotografei; enorme, que mais me aumentou a dúvida – “lavado aqui?! como? Tão alto?! “ Tenho que lá voltar com o amigo Frade Costa. Deve haver ali um “ ovo de Colombo”. Seguimos por entre hectares de jovens oliveiras, segundo nos dizem dos “ espanhóis”, que substituíram os eucaliptos da Soporcel. Antes isso.
A paisagem continua a brindar-nos, encantando-nos tal como a companhia do grupinho que se formou e fechávamos os caminhantes. Neste momento, agradável surpresa, juntou-se ao grupo, ainda que lesionado num pé, mais um “Friend“, no seu Mercedes, provando que a acção não lhe escapa, não é assim Zeca? Bem hajas pelo “ apoio “; ainda deu boleia ao João (foram reunindo os órgãos sociais…).
Nós caminhámos até que o Carlos Alves deu ordem de “encurtar caminho porque já é tarde” ; já estávamos por tudo, mais tempo menos tempo, tudo é tempo. Descemos o cerro, travando “ às quatro rodas” até que lobrigámos o “ Povoado “. Os nossos colegas madrugadores, quando nos pressentiram, abriram alas e lá fomos recebidos com palmas e toques como se de caloiros se tratasse. Nesta altura o comando estava reunido, pelo que o General Coixão, na sua montada rubicunda galopou sob o olhar atento do Brigadeiro Alves. Mal ele sabia que era o último galope que fazia sobre aquela acarinhada azémola. A separação ia ser inevitável, para dor do dono e, suspiros, assim o imagino, da animália.
As fotos de Grupo impuseram-se, com júbilo de todos.
Em seguida fomos, em passo de corrida, para a Sede da ACDR onde um lauto almoço nos esperava. Saboreemo-lo. “ Amanhã” conto-Vos. Um abraço.
José Lebreiro
26 de Maio de 2012
Na maior, no andar superior vivia “o alemão“ e eram os escritórios; na parte inferior era o depósito do minério; nas casas baixinhas viviam os operários e os guardas; todos Portugueses que, naquele caso, trabalhavam para o alemão. Os nossos Amigos José Frade Costa e Joaquim Moreira conheceram as minas em laboração e deleitaram-nos com os pormenores.
Mantém-se ainda uma galeria aberta, agora com água e vedada com rede; mais além, um grande tanque onde lavavam o minério. Mais além?!, não, tenho que ir ver; e fui; fiquei para trás mas vi e fotografei; enorme, que mais me aumentou a dúvida – “lavado aqui?! como? Tão alto?! “ Tenho que lá voltar com o amigo Frade Costa. Deve haver ali um “ ovo de Colombo”. Seguimos por entre hectares de jovens oliveiras, segundo nos dizem dos “ espanhóis”, que substituíram os eucaliptos da Soporcel. Antes isso.
A paisagem continua a brindar-nos, encantando-nos tal como a companhia do grupinho que se formou e fechávamos os caminhantes. Neste momento, agradável surpresa, juntou-se ao grupo, ainda que lesionado num pé, mais um “Friend“, no seu Mercedes, provando que a acção não lhe escapa, não é assim Zeca? Bem hajas pelo “ apoio “; ainda deu boleia ao João (foram reunindo os órgãos sociais…).
As fotos de Grupo impuseram-se, com júbilo de todos.
José Lebreiro
26 de Maio de 2012