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Vale da Veiga

Foto: Foz Côa Friends

Estação e Foz do Côa

30 de Junho de 2012

Foto: Foz Côa Friends

Paisagem avistada junto ao Castelo Velho - Freixo de Numão

26 de Maio de 2012

Foto: Foz Côa Friends

II Passeio pedonal pela Linha do Douro

Quinta abandonada - Almendra

Foto: Foz Côa Friends

II Passeio pedonal pela Linha do Douro

Rebanho nas proximidades da Srª do Campo - Almendra

Foto: Foz Côa Friends

Terrincas

Amêndoas verdes

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Rio Douro próximo da estação de Freixo de Numão / Mós do Douro

Foto: Foz Côa Friends

Linha do Douro

Viaduto da Linha do Douro no Vale Canivães entre o Pocinho e a foz do Côa.

Foto: Foz Côa Friends

Pocinho

Vista geral sobre o Pocinho a partir do santuário da Srª da Veiga.

Foto: Foz Côa Friends

Pocinho

Um dos muitos pombais existentes na região.

Foto: Foz Côa Friends

Foz do Côa

Onde o Côa e o Douro se abraçam.

Foto: Pedro Pego

Foz do Côa

Onde o Côa e o Douro se abraçam.

Foto: Foz Côa Friends

Foz Côa

Lagoa

Foto: Foto Felizes

Flor de Amendoeira

Foto: Foz Côa Friends

Igreja matriz de Almendra.

Templo do séc. XVI em estilo manuelino e maneirista.

Foto: Fernando Peneiras

Pelourinho de Almendra

De acordo com a sua feição quinhentista, o pelourinho datará dos anos seguintes à atribuição do foral manuelino em 1510.

Foto: Fernando Peneiras

Foz Côa

Câmara Municipal e Pelourinho

Foto: Foz Côa Friends

Pocinho e Cortes da Veiga

Vista geral

Foto: Adriano Ferreira

Quinta da Ervamoira

Foto: Adriano Ferreira

Foz Côa

Amendoeiras floridas

Foto: Adriano Ferreira

Foz Côa

Floração da amendoeira.

Foto: Adriano Ferreira

Túnel das Pariças

Linha do Douro - Castelo Melhor

Foto: Foz Côa Friends

Foz do Côa

Nevoeiro sobre a foz do Côa.

Foto: Foz Côa Friends

Quinta da Granja

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Quinta da Granja

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Próximo da Quinta das Tulhas

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Próximo da Quinta das Tulhas

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Próximo da Quinta das Tulhas

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Saião (Pocinho)

Foto: Foz Côa Friends

Douro

Próximo da Quinta das Tulhas

Foto: Foz Côa Friends

Linha do Douro - Caseta

Próximo do Côa

Foto: Foz Côa Friends

Foz Ribeira Aguiar

Próximo da estação de Castelo Melhor

Azulejos

Estação de CF do Pocinho

Manifestação pela reabertura da Linha

Porto

Foto: Foz Côa Friends

Castelo de Numão

Foto: Foz Côa Friends

Capela do Anjo S. Gabriel

Castelo Melhor

Foto: Foz Côa Friends

Castelo Melhor

Foto: Foz Côa Friends

Castelo Melhor

Foto: Foz Côa Friends

Quinta da Granja

Foto: Foz Côa Friends

Quinta da Granja

Foto: Foz Côa Friends

Concerto no Museu do Côa

Foto: Foz Côa Friends

Figos e Amêndoas

Foto: Foz Côa Friends

Foz do Côa

Foto: Filipe Inteiro

Orgal

Foto: Foz Côa Friends

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13 junho 2012

A LENDA DOS CASTELOS - Parte II

(...Continuação da parte I

Capela do Anjo S. Gabriel

O Anjo Gabriel convocado para a ultimação do acordo, abençoou o grupo e prometeu-lhe que, lá do alto, com ou sem morada própria, zelaria, para que tudo corresse bem e que não mais teriam de se incomodar. Um dia mais tarde, isto é forma de dizer, mais hoje que naquela altura, pois hoje se não perdoa um segundo de atraso ou avanço, mais de atraso que de avanço, e naquele tempo, o dizer um dia mais tarde, podia muito bem ser um século, ou vários, um dia mais tarde, dizia o Anjo, ainda os vossos descendentes irão construir a minha casa, aqui neste sítio. Ficou prometido, sem data marcada, mas que o Anjo não perdoa. 


Capela do Anjo S. Gabriel


E não se comprometeram logo, o que o Anjo compreendeu, já que a prioridade era o Castelo, não só porque queriam a promessa feita aos calabrenses, também sem data, mas porque precisavam de descansar e planear a construção. O Anjo ajudaria. 

E, no dia seguinte, não consta que, com a ajuda do Anjo, embora os anjos façam as coisas sem dar nas vistas, começaram a empilhar calhaus à volta da colina, calhaus estes surripiados, não sem dificuldade, do maciço de xisto que era toda colina; e assim andaram durante longos anos, partindo o rochedo e alinhando os calhaus no paredão, juntando-lhe terra amassada misturada com palha, que era o cimento da época.




Capela do Anjo S. Gabriel vista do Castelo de Castelo Melhor


Se os calabrenses ou outros os foram ali importunar, não consta; o castelo, ou melhor dizendo, a muralha à volta do cume da colina, lá está, com vários metros de altura, desde o lado nascente, mais alto na parte norte e poente, e com dois ou três metros do lado sul; digo lados, para facilitar a compreensão, pois não é uma construção em círculo perfeito, tendo sido mais usada a economia de meios, conceito já nessa época praticado, do que a preocupação geométrica.


Muralha do Castelo de Castelo Melhor


Dado o espaço existente entre a face interior da muralha e a base do centro rochoso ser tão pequena, tudo leva a crer que seriam poucas e de reduzidas dimensões as habitações intramuralha; e a fortificação só serviria mesmo para refúgio, por tempo indeterminado. Mesmo a existência de um poço, este sim, quase circular, que devia servir para represar as águas das chuvas, já que nascente, naquele ponto, seria difícil existir; deve ter sido construído por descendentes dos originais construtores. 


Poço existente no interior do Castelo


As habitações mais próximas e provavelmente as mais antigas, ficam a cerca de cem metros da muralha, na encosta norte e nordeste, designada por abixeiro, designação que sempre interpretei, como sendo o avesso de soalheira; ou então, Abixeiro, devido à forma como as construções se foram agrupando, formando bicha, em direcção ao castelo ou dele divergindo.




Embora a rua existente tenha esse nome, com placa toponímica – modernices – a verdade é que não há referências nos documentos consultados. E como tudo o que está embalado em celofane de lenda, assim deve continuar, a História tem muito tempo e pode esperar, não fiz qualquer esforço documental em relação a datas e vocábulos, porque não tenho formação ou vocação, e nem tempo, para calar o que de histórico existe, até porque a História, não raras vezes, com suas obsessões de rigor e finitude, apaga a parte encantatória que espaços, tempos e seres mantiveram anteriormente, mesmo antes da invenção da História, condenando sumariamente, algumas vezes, os crimes que as lendas e seus protagonistas não cometeram e raramente aceitam ter havido erro histórico. E, assim, a rudeza da ciência histórica não repõe nem repara a beleza e a ternura das lendas que vai desfazendo.




Não foi este o caso e disso me encarreguei de salvaguardar.

O castelo foi crescendo devagar mas seguramente, a família foi aumentando naturalmente, quando o grupo era formado por homens e mulheres, e ainda pelos que, pela calada da noite e sem se despedirem, foram deixando o Calabre e se foram juntando aos de Castelo Melhor, que ainda o não seria tanto por estar em construção. 


O chefe tribal do Calabre, furioso com as fugas quase diárias, ordenou a três dos guerreiros da sua confiança, que fossem ver o que se passava lá para os lados dos dissidentes e tentassem convencer a voltar os que, de noite se tinham escapulido. Os emissários lá foram aos tropeções por ladeiras agrestes, onde só pedras e mato cresciam até que agora estes, lá do alto que veio a chamar-se de Santa Bárbara, viram as paredes já bem altas, do castelo em construção e logo comentaram, “este castelo é bem melhor do que o nosso”, razão tinham eles!

Com alguma precaução, pois eram o pessoal de confiança do chefe do calabre, foram descendo a encosta, até que foram interceptados, por uma moira que andava à caça com mais três adolescentes e lhes perguntaram quem eram, de onde vinham e ao que vinham. Lá se explicaram, beberam água fresquinha numa fonte que ali perto havia, e que veio, muitos anos depois, a chamar-se de Santa Maria; e todos os sete, falando a mesma língua – pois a emigração para França, só muitos séculos depois é que se daria – desceram até à parte mais ou menos plana do requeijão e depois foram subindo pelo abixeiro até há construção em curso (sem licença, como agora, sem responsável pela obra, como agora) onde encontraram uma grande azáfama e depois uma grande festa; foi então, que o mais velho dos três guerreiros viu o seu irmão, desavindo com o chefe do calabre, de braços abertos para o receber. 


“Como nós envelhecemos”, disseram em coro, ao mesmo tempo que eram abraçados por todos; “mas temos de acabar isto”, dizia o do castelo em construção. “E nós vamos ajudar-vos, se nos aceitarem e não voltaremos mais para o calabre”, dizia o mais velho dos três guerreiros. “Não senhor, não vão fazer nada disso; os que vieram durante a noite, de livre vontade, cá ficaram, estão bem, trabalham no castelo, e estão a fazer a sua casa; vós, como viestes em nome do meu avô, vão voltar e dizer-lhe que estamos bem e quando um dia quiserem vir, podem mudar-se para cá, até porque já não serão muitos lá no calabre.”. “Sim, somos já poucos e quase só velhos, mal conseguimos tirar da terra o bastante para nos mantermos; o que nos vai valendo é o rebanho das cabras”. “Então vão lá e venham todos”, disse-lhes o chefe do novo castelo. 


Castelo de Castelo Melhor


“Nós vamos e voltaremos se o casmurro do teu avô nos não convencer a ficar; está velho e sobretudo mais intransigente e injusto, mas vamos tentar que ele venha”.

Lá partiram, sem esperança de voltar e menos ainda de que o velho patriarca os acompanhasse.

Ainda a grande distância do Calabre começaram a ver uma grande mancha de fumo, cada vez mais denso e que lhes parecia ser lá para os lados do seu castelo. Aceleraram o passo ladeira acima até ao ponto mais elevado de onde se avistava o Calabre. Era já noite.

As chamas envolviam todo o castelo e temeram que os seus familiares mais próximos não tivessem escapado e a correr como podiam foram-se encontrando pelo caminho com pequenos grupos aterrorizados, só com as roupas que usavam vestidas, cansados e se água ou alimento.


Monte Calábria (à direita na foto)
«O que se passou, perguntaram os três ao mesmo tempo? O chefe acordou bem cedo e subiu ao ponto mais alto do castelo; como lhe disseram que vós não tivesseis regressado ainda, ficou de tal modo furioso que começou a amaldiçoar tudo e todos sobretudo a vós os três, chamando-vos traidores, bastardos e a ameaçar deitar o fogo a tudo. Reuniu o que restava da tribo, os mais novos já tinham começado a abandonar o castelo e sem atender às vozes que lhe aconselhavam calma dissolveu o conselho dos anciãos e chamou seis guerreiros para que formassem um conselho de guerra para vos julgar aos três como traidores e que fossem severamente punidos. À revelia? Sim, à revelia.»

O conselho assim nomeado concluiu que não cederia a pressões e que não julgaria à revelia fosse quem fosse antes de saber se traíram ou se ainda não tinham voltado por não terem conseguido; decidiram também que a partir desse momento nenhuma decisão seria tomada sem que o concelho dos anciãos do qual faziam parte fosse ouvido, devendo por isso ser convocado novo conselho.

Foi o fim. O velho chefe tribal, incapaz de perceber o que se passava para perceber sensatamente, preferiu chamar a si todos os poderes e, praguejando, dirigiu-se para o subterrâneo do castelo, sempre acompanhado do seu corpulento bode preto e ali se trancou.

Uma violenta trovoada estoirou por cima do castelo e era tal o brilho dos relâmpagos e o ruido dos trovões qua todos pensaram que era o fim do mundo a chegar e que o velho guerreiro e chefe tribal e as suas pragas estavam na origem de tamanha borrasca quando ainda há pouco o céu estava quase limpo.


Vista geral sobre Castelo Melhor


Ainda não sabiam que havia no céu uma santa que tinha a seu cargo acudir aos crentes qua a convocassem quando havia trovoada. Como não crentes da religião a que a santa pertencia o mais natural seria, mesmo que soubessem por ouvirem falar, não a invocassem por preconceito religioso, por sinal bem frequente nos tempos mais actuais. E tal desconhecimento ou recusa em pedir ajuda terá sido a sua salvação. Afastaram-se cada vez mais do castelo e já distanciados, umas centenas de metros, viram que um relâmpago como nunca tinham visto antes iluminou o céu por milésimos de segundo (não dava para confirmar pelo relógio mesmo que relógio houvesse, já que tal preciosidade só muitos séculos mais tarde veio a ser útil a uns tantos, a enriquecer alguns e nalguns casos a enfeitar os bolsos e os pulsos de muitos), mas aquela tribo nem dos de sol tinha, embora por ele e outras estrelas se guiassem e orientassem.

Dizia que o tal relâmpago nunca visto igual atingiu em cheio a parte do castelo onde se situavam os currais e a lenha, criando um fogaréu que depressa se elevou no ar e alastrou a toda a área castelar.

De longe viram que só as paredes, ou seja, a muralha ia resistindo e na noite ficava um “esqueleto” de castelo recortado no vermelhão do rescaldo.

Mas ainda conseguiram distinguir, bem no alto da torre mais alta, a imponente figura do bode que o reflexo do brasido nos seus olhos caprinos pareciam dois faróis a iluminar o caminho do que restava da tribo em fuga.

Ainda hoje, muitos séculos volvidos, se algum incauto ou mais afoito entra nas ruinas do que resta do Calabre, lá vai encontrar o velho bode de luzidio pêlo preto e olhos em chama. Os mais atrevidos que ousaram montar o velho bode tiveram encontro com Satanás e transformaram-se em fantasmas do velho chefe tribal que continua fechado nos subterrâneos do castelo para a eternidade da lenda!


Fim


Texto: Reis Caçote

02 junho 2012

A LENDA DOS CASTELOS - Parte I

Castelo Melhor


Quando de lá saí, em finais de Setembro de 1952, não havia água canalizada, nem electricidade, nem telefone, nem estradas, nem um único doutor ou engenheiro, nem sequer as gravuras que, segundo me garantem e eu acredito, já para ali estavam há mais de trinta mil anos! É muito ano! E sempre tão disfarçadas que nunca se denunciaram; até que um dia... Lá voltaremos.

Mas havia o castelo, a igreja, duas escolas primárias - hoje do primeiro ciclo - uma para os rapazes e outra para as raparigas, nada de misturas; havia também umas largas centenas de pessoas, perto de mil, ufanas da sua terra, a maior parte delas; todas não, como é costume, mas as que o eram tinham por lema dizerem-se de “Castelo Melhor, dos pimpões”, expressão que vinha de um velha quadra popular na zona, que rezava assim:

«Muxagata das tomatas
Vila Nova dos ladrões
Almendra dos urtigões
Castelo Melhor dos pimpões»


Poderíamos tentar encontrar uma explicação para aquela vaidade toda, mas tal como está é que me parece bem. Assim, há que não mexer.

Havia muitas fragas e terra, pouca, mas ia dando, desigualmente como é hábito, para todos viverem, mal quase sempre, sem assistência médica ou outra, a não ser o doutor Caldeira, que morava em Almendra, a tal dos urtigões, e que uma vez por semana ia a Castelo Melhor, onde nasci e vivi até aquele Setembro distante.

Como disse lá atrás tinha um castelo e tem-no ainda e como já vimos não se trata de um castelo qualquer, mas o Castelo Melhor!


Castelo de Castelo Melhor
Desengane-se quem acidentalmente, possa ler este apontamento e não conhecer o castelo; é uma muralha, construída em torno da crista de uma colina e todo o seu miolo é um aglomerado de xisto, que sobressai bastante acima da muralha ou do que dela resta.

O qualificativo de “Melhor” tem a ver, como quase sempre sucede, com uma lenda que lhe está subjacente e que, em traços largos, é mais ou menos assim:

Na tribo de origem dos meus longínquos antepassados, habitantes de um outro castelo – o Calabre – que nunca soube exactamente onde ficaria e que também tem a sua lenda, e se lendas são não se lhes deve tocar para que se mantenham como tal e mantenham a natural beleza da lenda.

Deve ter sucedido algo de anormal, lá para o Calabre, se calhar desentendimentos sobre chefia ou governação má ou então, o que não seria de todo impossível um conflito de gerações, como hoje se vai chamando quando uns querem só os direitos e outros não querem só os deveres; o que é certo, é que o grupo se cindiu, e uns quantos, à falta de outros argumentos melhores, decidiu separar-se e no acto de despedida, em jeito de ameaça e também desafio, prometeu, aos que ficavam que ainda iriam ter um castelo melhor.

Eu estou convencido, mesmo que não conste da lenda e muito menos da estória, que o grupo dissidente já devia ter andado por aquelas paragens, nos seus passeios a pé ou montados nalgum animal que já tivessem por sua conta e domesticado ou durante as caçadas, que por certo fariam; e deviam ter já reparado que havia para aqueles lados, bons locais para fazerem um castelo ou outra estrutura defensiva; lá está, defensiva, é por que algo temiam. Vamos em busca do que temeriam. 

E agora, sem querer interferir nas voltas que a vida daquela gente terá dado, acho que outra lenda, se lhes atravessou no caminho, antes de definitivamente se decidirem por aquele local da fortificação.

Estou a imaginá-los a olharem em volta, vindos dos lados do Rio Douro, que não sei se já se chamaria assim, mas tudo leva a crer que já por ali corria, há milhares ou milhões de anos, com algumas alterações que a natureza foi por certo introduzindo, mas quando digo milhares ou milhões de anos é porque já há muito chovia, muito nalguns períodos e nada noutros, como hoje sucede.

Dizia que, vindos do lado do Douro e quando chegaram ao Alto de Santa Bárbara, que não podia ter esse nome, nem outro, e muito menos teria a capela, devem ter visto, logo no primeiro plano, à direita, a serra, sem nome como hoje, só serra, que ia crescendo em declive irregular vinda dos lados do Rio Côa e do lugar onde se junta ao Douro, acabando num penhasco de xisto de onde se via tudo em redor.

O citado rio Côa, tal como o Douro, não sei se teria já esse nome, mas que por ali já corria há milhares de anos não pode haver dúvida, ou então as tais gravuras não podem ter trinta mil anos, já que é nos penedos que estão junto à margem que os riscos foram feitos, não sei por quem, e se soubesse não dizia, pois não só não tenho feitio de denunciante e muito menos tratando-se de conterrâneos meus.




Terão visto também, lá mais ao fundo, a colina, bem mais pequena na altitude, mas mais equilibrada para fazerem um castelo; parecia um requeijão quando vista de mais perto.

Embora aquela ponta da serra fosse o que mais lhes agradara e melhor servia para organizar a defesa ou dos escassos meios tirar proveito, pois bastaria largar uns calhaus em direcção às hordas assaltantes e que, com a velocidade vertiginosa que, de certo, adquiririam, levariam tudo à frente, como bem me lembro das “galgas” a descer a Cabreira, ou os Cascalhais, a saltarem como loucas, por cima de árvores e outras rochas, partindo pelo caminho tudo o que à frente se lhes atravessasse, só parando quando se desfaziam em pedaços pelo caminho ou então quando atingiam os leitos dos rios, Douro ou Côa, conforme se tratasse da Cabreira ou dos Cascalhais.

Aquela ponta da serra era a mais indicada à primeira vista, como já disse, por ser sobranceira a todas as outras a vários quilómetros em redor, mas teve de ser rejeitada por dois motivos, ambos de inegável valia a ter em conta: o primeiro era de natureza estratégica, por não ser fácil defender com vantagem o lado virado à foz do Côa, do lado do Orgal, só citado para melhor orientação, pois o lugar não existia na época em que nos reportamos, assim como os que atacassem do oeste por a serra quase não ter declive durante muitas centenas de metros; podiam colocar sentinelas, mas gente com essas características não devia fazer parte dos planos, até porque o grupo dos dissidentes não era muito numeroso e funcionava melhor quando em ataque agrupado.




O outro motivo, de natureza divina, bem mais complicado que o estratégico, como se veio mais tarde a comprovar, é que foi na ponta do rochedo que, em tempos não datados, mas que teria a ver com a distribuição dos espaços entre as forças celestiais, o Anjo Gabriel, embaixador do Céu, desceu e dali contemplou a beleza e também a pobreza de toda a imensidão envolvente; e tão necessária achou a sua definitiva guarda, que decidiu que ali devia ser erguida uma sua morada. E embora estivesse distante o tempo que mediava entre a construção do castelo e a morada para o Anjo, a verdade, salvo seja, é que os mediadores acharam que deviam ceder à vontade divina, não só por ter direitos adquiridos e que naquele tempo eram bem mais respeitados do que o são agora, mas também porque não iam desencadear uma guerra entre o Céu e a Terra, tanto mais que foi para evitar uma guerra entre família que deixaram o Calabre há já uns dias; a dormirem ao relento, mal alimentados e cansados. Em suma, nada de guerras e mãos ao trabalho, ficando assim assente, que o castelo iria ser construído lá em baixo, na colina que parecia um requeijão, não sei se haveria tal iguaria naquele tempo, mas se não havia, não souberam nem saberão o que perderam. 


Texto: Reis Caçote

19 abril 2012

Foz Côa no início do séc. XX (1903 - Publicações)







Este último artigo refere-se ao edifício geminado  da antiga escola primária situada em frente às instalações dos bombeiros voluntários, uma vez que a chamada Escola do Campo (para crianças do sexo masculino), só teria sido construída posteriormente, na década de 50.

Edição de 8-10-1903
Documentos gentilmente cedidos por Adriano Ferreira

22 dezembro 2011

Tabernas de Foz Côa



Relação de algumas Tabernas de Foz Côa- Década de 50
Pela Influência que tiveram em muitos episódios.


PRAZERES                                                       Pocinho
BACANA                                                           Rua da Quelhas               
RAMALHO                                                        Rua da Quelhas
GAGO                                                              Conceição
FIGUINHA                                                         Conceição
PANTELHA                                                       Rua de S. Miguel
PAXISA                                                             Rua de S. Miguel
LUÍS VEIGA                                                      Rua dos Combatentes
DESELDA                                                         Rua dos Combatentes
MONTEIRO                                                       Rua dos Combatentes
GOVERNANTA                                                 Praça do Tablado
BARRIGA VERDE                                             Rua D.ª Feliciana
VASCO                                                             Rua do Castelo
COSTA                                                             Rua da Pedreira
LOURENÇO                                                      Rua da Pedreira
REGEDOR                                                        Travessa da Pedreira
BRASILEIRO                                                      Rua D.ª Berta Montalvão
MÁRCIO FAUSTINO (Xanco)                             Rua de S. Miguel
MARIA ALTINA                                                   Rua de santa Quitéria
SAQUETA                                                          Conceição
PECHINCHA                                                       Largo do Picadeiro
PRETO GUERRA                                               Rua do Relógio

A propósito, aqui ficam dois episódios passado em Tabernas.

1-A ESTRADA DE LAGOAÇA QUEM LÁ PASSAR QUE A FAÇA
No meio do século passado, antes da emigração para a Europa, especialmente para França, havia muita falta de trabalho. As pessoas deslocavam-se sazonalmente para trabalhos agrícolas e outros, daí a designação de "Os Ílhavos", "Os Ratinhos da Beira", "Os Gaibéus", etc.
Em Foz Côa, um grupo de homens que procurava trabalho além-douro, para os lados de Lagoaça, dirigia-se para lá, pois se encontrava em construção uma estrada que dava o ganha-pão a quem para lá fosse trabalhar.
As mulheres arranjaram-lhes as merendas, a jornada era longa e lá vai uma catréfia deles, a caminho de Lagoaça, a pé, já se sabe.
Ao passarem no Pocinho, cansados, claro, entraram na taberna da ti Prazeres.
 E... sem vintém, um deles mandou vir uma rodada (de vinho, é claro). A ti Prazeres guardava o vinho em garrafas, envoltas no chamado pé de meia, de algodão, que desde que fosse regado, mantinha fresca a bebida. Veio a primeira rodada, sem ser paga, pois ninguém levava vintém e logo outro mandou vir outra, prometendo à ti Prazeres que pagariam no regresso.
Rodada atrás de rodada, as coisas complicaram-se, a pontos de um dos do grupo, já dia adiantado e bem, põe a mão fora da taberna, por cima dos dois meios portões e exclama:
 — Até queima Zé Casal... mais um pé de meia ti Prazeres!!!
E do Pocinho não passaram, regressando a Foz Côa, "alegres" mas tristes, por causa das responsabilidades familiares, pois certamente iriam ouvir das bonitas.
E assim foi. As mulheres invectivaram-nos, chamando-lhes tudo, desde irresponsáveis até desavergonhados e mandriões, pois nem pão conseguiam ganhar para os filhos.
E, meio envergonhados, tudo iam "engolindo", porque afinal as mulheres até tinham razão. Mas houve um, mais destemido, dos tais que nem a tudo se verga, mesmo sem razão, teve esta tirada excepcional:
—Olhem... a estrada de Lagoaça, quem lá passar que a faça!!!
(Boa tirada, sem dúvida).

Antiga Taberna Prazeres
Foto publicada por Toni Morgado


2-APONTA NO CU DA PIPA
A Toninha Saqueta ficava de serviço na taberna, enquanto o marido ia amanhar as propriedades. Um freguês certo, diário, vinha beber o seu copo, fiado, ao que a taberneira marcava com um sinal no tonel.
Quando o marido regressava, perguntava à mulher.
— Olha lá, Fulano veio beber? E apontaste?
— Sim, apontei, está ali no cu da pipa.
Isso repetia-se paulatinamente, até que um dia o freguês, por qualquer motivo, faltou.
O marido, como sempre, perguntou se o freguês tinha vindo e a mulher respondeu que naquele dia, não.
— E apontaste?
 — Não, pois se não veio…!!! 
— Olha, se não veio que viesse, ninguém o mandou faltar, aponta no cu da pipa e já.


(…)
Houve colaboração de muita gente que se prestou a contar este ou aquele pequeno episódio, esta ou aquela história, salientando a prontidão sempre demonstrada por todos, para assim darmos a conhecer aspectos já subconscientes e compreender alguns porquês de certas atitudes e expressões, passando a fazer parte da cultura popular viva.
(…)
Por: Joaquim Alberto dos Santos Marques (CÔAVISÂO).

08 dezembro 2011

CALHAVA-TE RAMALHO

O Sr. Ramalho, viúvo, quando tocado dos copos, especialmente aos domingos e como vivia sozinho (in vino veritas), punha-se à janela da casa onde vivia e bradava em altos gritos: quero-me casar, quero-me casar, não tenho quem me passe a roupa, quem me ajude, etc. etc.
Cá em baixo, um tal "Sarrador", respondia-lhe:
— Olha, Joaquim, casadinho sou eu e não tenho mulher!!!
O Sr. Ramalho insistia que se queria casar, que se queria casar, esbracejando, até que um tal Garcia, conhecido como Nosso Senhor, chamou uma menina Teresa, neta da Bacana, com cerca de 3 ou 4 anos e disse-lhe para perguntar ao Sr. Ramalho se queria casar com a avó nova ou com a avó velha (bisavó). Imediatamente respondeu que era com a avó nova.
Resposta ingénua da miúda: — Com a minha avó nova?!!! — calhava-te Ramalho, — não querias mais nada que casares-te com a minha avó nova!!!


Nota: Daí que, quando ainda hoje alguém pede ou deseja alguma coisa mais especial e que não é possível, a resposta que se ouve é esta: 
Calhava-te Ramalho!


(…)
Na prospecção e respectivo reconto destas pequenas histórias, jamais se quis ferir a susceptibilidade de alguém, muito menos ofender; elas são factos do domínio público e conhecidas do vulgo. E são estas que agora se retratam, com o intuito de não serem arrastados pelo rio Letes para que venham a constituir momentos de boas recordações, de tempos passados e que as pessoas com um pouco de mais idade, certamente os identificarão.
Houve colaboração de muita gente que se prestou a contar este ou aquele pequeno episódio, esta ou aquela história, salientando a prontidão sempre demonstrada por todos, para assim darmos a conhecer aspectos já subconscientes e compreender alguns porquês de certas atitudes e expressões, passando a fazer parte da cultura popular viva.
(…)
Por: Joaquim Alberto dos Santos Marques (CÔAVISÂO).

25 novembro 2011

Lembranças do "Homem Macaco" (Albano de Jesus Beirão)


Albano de Jesus Beirão, o nosso Albaninho, para uns é um fenómeno inexplicável, para outros é um mito, para alguns outros é um mistério com um homem dentro. Colocados perante o Albaninho como simples observadores, tomamos necessariamente uma destas posições, e, tal como vemos de forma diferente um copo com água dentro, uns vêem menos a água se se fixam na beleza do recipiente, outros deleitam-se na total transparência do cristal, enquanto há quem se abstraia de tudo e se concentre na pureza do líquido.
Como quer que seja, Albano de Jesus Beirão, que se tornou mundialmente conhecido como o "Homem-Macaco", nasceu e viveu nesta região, aqui arrastou o seu drama ingente, a estranha doença que, como dizia sua pobre mãe, "era uma doença que ninguém mais tinha".
Há ainda muita gente que se recorda desta personagem estranha, gente natural da Meda, de Trancoso, de Foz Côa, desta região, enfim. Muitos o viram, por aqui também, nos seus espantosos "trabalhos". Não desapareceu, por isso, da nossa memória colectiva a estória deste homem singular, mas o caso do Albaninho corre o risco de se transformar num "mito” à medida que os anos vão passando e, com o decurso do tempo, aumenta igualmente o número dos incréus...

O Albaninho...
Os mais velhos, os que tenham mais de 80 anos, poderão lembrar-se dos seus feitos. Morreu com 94 anos, em 1976, há 27 anos. Se fosse vivo teria agora para fazer nada menos do que 122. Era um homem de estatura menor que a média, bem encorpado, simpático, cara redonda e franca, consciente da sua humildade, de carácter eminentemente beirão, mas deixando sobressair, de quando em vez, uma certa consciência de que era, na sua infelicidade, uma pessoa invulgar. Nasceu em 1882, na freguesia do Aveloso, concelho da Meda, ao lado da Ribeira Teja, cujas paisagens tanto embelezam a povoação. Puseram-lhe o nome de Albano de Jesus. Seu pai era das Astúrias, Espanha, donde tinha fugido e onde tinha apanhado gazes num movimento revolucionário. Sua mãe ficou viúva pouco tempo após o nascimento da criança e voltou a casar. A família, simples, vivia do amanho dos campos.
(…)

Excerto de um excelente e muito interessante relato da vida Albano de Jesus Beirão publicado na CÔAVISÃO nº 6 2004.

Episódio da série televisiva "Fenómeno", produzida pela Mínima Ideia para a RTP 2, dedicado a Albano Beirão e aos estranhos acontecimentos que marcaram a sua vida.

Fenómeno - Albano Beirão (Parte 1)

Fenómeno - Albano Beirão (Parte 2)

Fenómeno - Albano Beirão (Parte 3)

Fenómeno - Albano Beirão (Parte 4)

19 novembro 2011

Um espólio a preservar



No passado mês de Julho a Associação de Amigos do Concelho, Foz Côa Friends, teve oportunidade de conhecer um extenso espólio de objetos de outros tempos, propriedade de uma Fozcoense de provecta idade que teve a amabilidade de nos abrir as portas de sua casa para uma visita muito interessante, surpreendente e agradabilíssima.

Os objetos, uns mais antigos que outros, são autênticos testemunhos do modo de vida de outros tempos. Através deles é possível percecionar, e em muitos casos reconstruir, a maneira como os nossos avós viviam em tempos de enormes dificuldades.

Trata-se pois de um espólio importante para a memória coletiva, cuja preservação urge garantir e em relação à qual a proprietária já manifestou interesse mostrando estar disposta à cedência a título gratuito e definitivo de todo o espólio desde que assegurada a sua conservação em local apropriado à fruição do mesmo.

Acreditamos que o poder local conseguirá arranjar uma solução que vá de encontro ao interesse colectivo pela preservação e exposição destas autenticas relíquias.

A divulgação destas preciosidades mereceu da nossa parte alguma ponderação, já que a aquisição destas antiguidades é objeto de ávida procura e caso a Câmara Municipal não trate deste assunto com a celeridade adequada, Foz Côa corre o sério risco de perder uma grande oportunidade de salvaguardar parte da sua história.

A Associação de Amigos do Concelho, Foz Côa Friends, gostaria de agradecer à D. Adelaide e seu filho, Fernando Gualter Garrido Costa, pela amabilidade e simpatia com que foi recebida e acompanhada nesta visita.

Por: Luís Branquinho e João Pala (texto e arranjos)
Eduardo Vicente (fotografias)