António Falcão com fotos de Ricardo Palma Veiga
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O Douro Superior é
definitivamente um Douro diferente. E Vila Nova de Foz Côa quer ser a capital
desta sub-região. O objectivo foi lançado com a realização do 1º Festival de
Vinhos do Douro Superior, que incluiu um concurso de vinhos, colóquio, provas
comentadas e muita animação.
Gustavo Duarte era um homem
feliz. O presidente da câmara da cidade de Vila Nova de Foz Côa conseguiu
finalmente inaugurar a Expo Côa, o espaço de exposições desta cidade duriense,
onde a vinha e o vinho são a actividade dominante. Não surpreende assim que a
inauguração deste espaço tenha sido realizada com os frutos mais preciosos da
região. Para além dos vitivinicultores do concelho, estiveram presentes muitos
outros dos concelhos vizinhos, dentro da sub-região denominada Douro Superior.
Esta é a zona do Douro mais encostada a Espanha e, dentro do Douro, a região
mais inóspita e selvagem. E é também a sub-região mais quente e seca e por isso
a única no Douro que tem, de forma generalizada, rega instalada nas vinhas
novas (e não só). Além de Foz Côa, o Douro Superior abarca os concelhos de
Carrazeda de Ansiães, Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta,
Meda, S. João da Pesqueira e Torre de Moncorvo.
O certame abriu portas
sexta-feira da parte da tarde e quando as fechou, no domingo à noite, terão
passado pela Expo Côa cerca de 6.000 pessoas, número que superou largamente as
expectativas.
Muitos e bons vinhos
A feira começou morna na tarde do
dia 19, sexta-feira, mas começou a animar rapidamente depois da inauguração
oficial, que contou com a presença do sub-secretário de estado Feliciano
Barreiras Duarte, que discursou e visitou demoradamente os muitos stands
presentes. A entrada era grátis mas o visitante, se não levasse copo, poderia
adquirir um na entrada (por 2 euros), com uma bolsa de guardar o copo ao peito,
tal como se faz no Encontro com o Vinho de Lisboa. A esmagadora maioria dos
stands pertencia a produtores de vinho (eram mais de 50) e os restantes estavam
destinados às iguarias e outros produtos da terra, como o azeite ou as
amêndoas, duas produções fortes da zona. Todos (ou quase) os mais emblemáticos
produtores de vinho do Douro Superior estiveram presentes mas não foi só
quantidade – com mais de 200 vinhos diferentes à prova - que surpreendeu.
Muitos dos técnicos e proprietários de quintas marcaram presença contínua na
feira, informando os visitantes sobre as características dos vinhos. Via-se
muita gente interessada, incluindo pequenos lavradores que fazem também o seu
próprio vinho, muitas vezes para consumo interno ou para os amigos. A
esmagadora maioria dos visitantes, contudo, era constituída por enófilos,
oriundos sobretudo da região e do norte e centro do país. Cerca de duas dezenas
de jornalistas e proprietários de algumas das principais lojas de vinhos
nacionais marcaram igualmente presença. Este grupo teve depois oportunidade de
visitar algumas quintas da região, como a do Vale Meão, Conceito Vinhos e
Quinta da Leda e Ervamoira.
A produção do evento – a cargo de
uma equipa especializada da Revista de Vinhos – providenciou também muita
animação para as tardes de sexta, sábado e domingo. Saltimbancos, bandas de
música, tambores, humoristas, houve um pouco de tudo.
Provas comentadas
Luís Antunes e Fernando Melo,
colaboradores permanentes da Revista de Vinhos, protagonizaram alguns dos
momentos altos deste evento, as provas comentadas, abertas ao público mediante
inscrição prévia era gratuita. Por uma das salas do complexo passaram primeiro
“Grandes brancos do Douro Superior”, “Grandes tintos do Douro Superior” e,
finalmente, “Tawnies e Vintages do Douro Superior”. Provas extremamente
interessantes todas elas, e muito participadas. Os vinhos foram judiciosamente
escolhidos pelos apresentadores que, escusado será dizer, optaram pelo melhor
que se faz nesta região. Vinhos que motivaram muitas conversas entre os
presentes.
Um colóquio fundamental
No campo mais técnico da
vitivinicultura fez-se também um pouco de história no pavilhão de exposições de
Foz Côa. Foi um dia inteiro a debater temas sob o lema “a vinha e o vinho do
Douro, o desafio da qualidade”. Participantes de grande qualidade e um enorme
nível de debate, com muitos temas candentes a autenticamente ‘pregarem’ a
audiência aos assentos.
Resumir um Colóquio de Foz Côa
com nove comunicações e uma mesa redonda de temas “quentes”, em meia dúzia de
palavras, não é tarefa fácil.
Os temas ecológicos, cada vez
mais em voga na região, estiveram a cargo de Francisco Olazabal (Quinta do Vale
Meão), Alexandre Mariz (Symington Family Estates) e António Magalhães (Fladgate
Partnership). Ficou claro que os viticultores olham cada vez com maior
interesse a viticultura Bio que, apesar de ser mais dispendiosa, tem em alguns
mercados de exportação uma maior procura que os vinhos de viticultura
convencional. Por outro lado a erudição vitícola do Douro preocupa-se agora com
a arquitectura das vinhas e com a sua durabilidade geracional. Voltamos a
pensar em tamanho grande numa região que sempre preferiu o formato pequeno.
As castas e clones foram também
abordados nas apresentações de Eduardo Abade e José Maria Soares Franco. Do
primeiro recolhemos a certeza de que o Douro são muitas castas e não apenas
meia dúzia delas e do segundo que é possível manobrar clones para obtermos as
nossas mais ambiciosas metas.
Pragas e doenças de lenho não
foram esquecidas: Cristina Carlos da ADVID levantou o alerta para a “nova
cigarrinha” da Flavescência Dourada a causar cada vez mais estragos no nosso
país (obriga ao arranque da vinha), e José Freitas descansou-nos no que refere
a doenças do lenho: por enquanto nada de alarmante.
As artes da vinificação ficaram a
cargo do know-how Symington na voz de João Pedro Ramalho e a prova de vinhos de
“novas” (antigas) castas do Douro coube a Jorge Moreira, da Real Companhia
Velha. Foi um final em jeito de festa, porque percebemos que há um muito Douro
para além das Tourigas.
Ao colóquio não faltou uma mesa
redonda onde foi discutido um polémico tema regional: Uma vinha com duas
denominações: Porto e Douro, complementares ou antagónicos?
Fonte: Revista de Vinhos
(19/02/2013)
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