“O antigo sucumbe, os tempos modificam-se e sobre as ruínas
floresce uma vida nova.”
(Goethe)
O rincão idílico que hoje trazemos à liça foi ponto de passagem para muitos
povos ao longo de milhares de anos de história e, por isso, tem uma
incomensurável riqueza patrimonial e monumental quantas vezes consubstanciada
num sem número de lendas trasmitidas de geração em geração e evidenciam a
vontade determinante de uma população em não renegar um passado rico que é seu
e muitas vezes também foi determinante para a evolução da região e do país que
hoje somos.
Castelo, fontes, sepulturas antropomórficas, capelas, igrejas são algumas das
ofertas desta pérola da antiguidade a quem dera o nome de Numão e que os seus
naturais e alguns eruditos sustentam que é sucedância da célebre Numância dos
lusitanos – antiga cidade da Península Ibérica junto ao rio Douro. E será?...
No nosso modesto entender, motivos há tais como os factos reveladores de uma
nobre antiguidade e as consonâncias dos nomes, que nos levam a deduzir que há
uma pontinha de verdade nesta crença da qual o povo jamais se desligará. Mas
vamos ao desenvolvimento...
Uma vez que este trabalho consiste sobretudo de hipótese, há um ponto
fundamental que importa desde já esclarecer a Hipótese.
Nos meus tempos do liceu era conhecida uma definição de hipótese, cheia de
humor, que nunca mais me abandonou, e que é importante que o meu caro eleitor
conheça, porque ela ajudará a deglutir e digerir o que virá a seguir:
“Hipótese é uma coisa que não é mas que
se faz de conta que é para ver o que seria se fosse”
Os puristas da língua e da lógica encontrarão sem dúvida muitas impurezas
na construção da frase e estão no seu papel, pois assim ganham a vida. Mas é
apenas um milagre de clareza e de síntese. Mais nada.
Uma coisa é certa: Sobre qualquer evento ou circunstância de causa desconhecida
ou duvidosa é sempre possível formular variadíssimas hipóteses.
Ora bem, se perguntarmos a qualquer pessoa desta terra como se chamam os seus
naturais ou habitantes, a resposta é sempre numantinos, não obstantes o termo,
segundo a enciclopédia Luso-Brasileira, significar natural ou habitante de
Numância.
A cidade de Numância, segundo se crê, tinha uma forma elíptica cujo perímetro
media pouco mais de três quilómetros.
As suas casas, normalmente de planta retangular, eram na generalidade muito
modestas.
A defesa, segundo rezam as velhas crónicas, era garantida por elementos
naturais e por fortes muralhas apoiadas em torres.
No ano 133 a .c.,
Numância, depois de uma longa e heróica resistência às tropas romanas de
Cipião, capitulou.
Os seus habitantes preferiram destruir a cidade a sujeitar-se à ignomínia dos
invasores, os quais mais tarde, reconstruiram-na.
Da diligente e exaustiva pesquisa que fizemos, com base em velhos textos e em interpretações
de investigadores e eruditos do séc. XVIII e anteriores, descobrimos que há
três versões quanto a localização da vestusta cidade de Numância.
A primeira, a que nos enche de orgulho, é a de que se refizera onde hoje se vê
o actual Castelo de Numão; a segunda, que assentara em Zamora – uma possível
sede de bispado e uma das mais importantes praça-fortes da Idade Média – a
terceira, propende para as imediações da actual cidade de Sória, mais
precisamente na aldeia de Puente de Garay.
É importante referir ainda que naqueles tempos população e guarnição eram muito
similares e unânimes na acção, porquanto os lusitanos eram hábeis na luta de
guerrilhas, sempre prontos para defenter o seu torrão e as suas famílias.
Ainda que não fosse aqui o incontestável assento da heróica Numância, é certo
que muitas circunstâncias concorrem para supormos alguns bons fundamentos,
jogados, claro está, com as hipóteses.
Se a primeira hipótese é verdadeira, ou seja, se Numão-sólido baluarte da defesa
do páis é sucedância de Numância, esta, para nós, era no preciso local onde
assenta o Castelo, por ser aqui que se têm descoberto moedas, mosaicos,
objectos diversos, inscrições, pedras tumulares e outros documentos pétreos que
atestam bem a presença romana neste local sendo óbvio que a houvessem
reedificado, e da qual se não conhece outro nome que não o do cognomento Monforte,
de tão fortia facta (altos feitos).
Passados longos anos, este nome veio a ser substituído pelo Numão que, por sua vez,
proveio do nome Naumen, de origem lusitana cujo significado é o de povoação
fortificada em local agreste e escarpado.
Obviamente que esta explicação não esgota a dúvida; pelo contrário, estamos
cônscios das suas limitações. Para nós ela é apenas um contributo – o leitor
aquilatará da sua utilidade e do seu valor – aquelas que, mais sapientes do que
nós pretendem desvendar o presente enigma. Todavia pensamos que é um
significativo subsídio para a defesa da nossa grandeza histórica.
Em suma, ser ou não ser... a verdade é esta: enquanto virmos este céu, estes
campos, estas pedras, estes horizontes, a crença perdurará eternamente e
considerar-nos-emos sempre numantinos!
IN: O FOZCOENSE
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