Às sete e meia esperávamos, no Largo da Igreja, os madrugadores dos cinquenta e sete inscritos para o Passeio Pedonal pelos Sítios Arqueológicos de Freixo de Numão.
O tempo amainou a nossa ânsia já que a proximidade levou a que muitos fossem em transporte próprio e outros arranjassem afazeres alternativos. Chegada a hora, partimos, conduzidos pelo amável Tó Zé Carneiro até às Devezas.
Refeito o Grupo, dirigimo-nos para o Alto da Touça onde apeámos e demos corda às sapatilhas. O frenesim do Sá Coixão, mesclado com saber e responsabilidade, qual patriarca, com uma bengala de focinho adunco e intimidativo, tocava o Grupo por razões que só bem mais tarde viemos a constatar – o percurso era longo e não para brincadeiras.
Entrámos no Prazo,
recalcámos pedras há muito calcadas, afagámos a lousa que detonou o achado, a memória da amendoeira cujas raízes se entrelaçavam com ossadas desgastadas pela humidade da terra fria; cada um se detinha onde julgava maior interesse para logo a seguir correr porque a distância já era considerada, aumentando, aumentando a do que nos seguia. A paisagem, mais bela que quadro renascentista, disputava a atenção à arqueologia.
“-Embora! embora!“ ressoava, por entre troncos de carinhosas arvores, o tom firme do Mestre. Seguimo-lo.
A calçada romana apresentava marcas profundas das rodas das carroças no áspero granito de grandes blocos que julgávamos impenetráveis.
Quando as necessidades já apertavam, milagrosas “Latrinas de cu ao léu“ surgiram na curva, onde não faltavam as roliças pedras que avantajavam a lata ou o enigmático papel-higiénico (imagino Caius o Grande a mandar indagar qual a planta que o produz) às amarelecidas folhas de jornal que o sol e a chuva tornaram mais parecido a papiro egípcio.
Aliviados, corremos, corremos e demos razão ao ditado “fica-te a mijar e verás o teu companheiro a andar“; apenas a beleza impetuosa da paisagem nos escutava o passo.
A Organização previu o nosso desejo e, com surpresa, presenteou-nos com tripla oferta; de descanso, de abundante manjar e fresco átrio da Casa Grande. Retemperámos forças, comemos e passámos os olhos sobre a riqueza museológica daquela Instituição.
Talvez por ser tão agradável o momento, pareceu-nos muito curto. O Timoneiro já tocava o barco a caminho do Castelo Velho. Rampa acima, encurtando a distância ora aos da frente ora aos de trás, desfizemos as jovens calorias quase sem tempo de se afazerem aos receptores.
À chegada àquele alto, mais elevado ainda pela torre de vigia, à qual nos foi facultado o acesso, era deslumbrante a paisagem, cada uma pedindo meças à anterior, consoante o ângulo visual; logo ao lado, as ruínas do Castelo Velho lembram-nos os tempos idos em que foi habitado e os recentes, em que grupos de jovens, tisnados pelo sol brincalhão, orientados pelo energético Sá Coixão, escavaram apertadas terras na ânsia de que algo lhes viesse ter às mãos.
Quando descemos, novo repasto se nos deparou, adornado pelo sorriso dos incansáveis colaboradores; Se eu soubesse já tinha descido há mais tempo. “Fizemos-lhes o favor“ de reduzir a carga, comendo e bebendo para retemperar forças, desconhecendo o que nos estava destinado.
A voz retumbante soou nos ares: “Vamos, vamos.”, era inconfundível; não só a voz como o exemplo; passo estugado que rapidamente aumentava a distância. O General comandava as hostes. Por mim, fazendo parte dos últimos, ouvia as explicações certeiras do Brigadeiro Carlos Alves que, carinhosamente, nos aturava e ultrapassava, como que adivinhando, a nossa curiosidade. Rapidamente divisámos um vale, com uma casa maior e um correr de outras mais baixinhas, em escombros, que nos foram indicadas como as habitações das minas de volfrâmio dos Sobradais.
Na maior, no andar superior vivia “o alemão“ e eram os escritórios; na parte inferior era o depósito do minério; nas casas baixinhas viviam os operários e os guardas; todos Portugueses que, naquele caso, trabalhavam para o alemão. Os nossos Amigos José Frade Costa e Joaquim Moreira conheceram as minas em laboração e deleitaram-nos com os pormenores.
Mantém-se ainda uma galeria aberta, agora com água e vedada com rede; mais além, um grande tanque onde lavavam o minério. Mais além?!, não, tenho que ir ver; e fui; fiquei para trás mas vi e fotografei; enorme, que mais me aumentou a dúvida – “lavado aqui?! como? Tão alto?! “ Tenho que lá voltar com o amigo Frade Costa. Deve haver ali um “ ovo de Colombo”. Seguimos por entre hectares de jovens oliveiras, segundo nos dizem dos “ espanhóis”, que substituíram os eucaliptos da Soporcel. Antes isso.
A paisagem continua a brindar-nos, encantando-nos tal como a companhia do grupinho que se formou e fechávamos os caminhantes. Neste momento, agradável surpresa, juntou-se ao grupo, ainda que lesionado num pé, mais um “Friend“, no seu Mercedes, provando que a acção não lhe escapa, não é assim Zeca? Bem hajas pelo “ apoio “; ainda deu boleia ao João (foram reunindo os órgãos sociais…).
Nós caminhámos até que o Carlos Alves deu ordem de “encurtar caminho porque já é tarde” ; já estávamos por tudo, mais tempo menos tempo, tudo é tempo. Descemos o cerro, travando “ às quatro rodas” até que lobrigámos o “ Povoado “. Os nossos colegas madrugadores, quando nos pressentiram, abriram alas e lá fomos recebidos com palmas e toques como se de caloiros se tratasse. Nesta altura o comando estava reunido, pelo que o General Coixão, na sua montada rubicunda galopou sob o olhar atento do Brigadeiro Alves. Mal ele sabia que era o último galope que fazia sobre aquela acarinhada azémola. A separação ia ser inevitável, para dor do dono e, suspiros, assim o imagino, da animália.
As fotos de Grupo impuseram-se, com júbilo de todos.
Em seguida fomos, em passo de corrida, para a Sede da ACDR onde um lauto almoço nos esperava. Saboreemo-lo. “ Amanhã” conto-Vos. Um abraço.
José Lebreiro
26 de Maio de 2012
Na maior, no andar superior vivia “o alemão“ e eram os escritórios; na parte inferior era o depósito do minério; nas casas baixinhas viviam os operários e os guardas; todos Portugueses que, naquele caso, trabalhavam para o alemão. Os nossos Amigos José Frade Costa e Joaquim Moreira conheceram as minas em laboração e deleitaram-nos com os pormenores.
Mantém-se ainda uma galeria aberta, agora com água e vedada com rede; mais além, um grande tanque onde lavavam o minério. Mais além?!, não, tenho que ir ver; e fui; fiquei para trás mas vi e fotografei; enorme, que mais me aumentou a dúvida – “lavado aqui?! como? Tão alto?! “ Tenho que lá voltar com o amigo Frade Costa. Deve haver ali um “ ovo de Colombo”. Seguimos por entre hectares de jovens oliveiras, segundo nos dizem dos “ espanhóis”, que substituíram os eucaliptos da Soporcel. Antes isso.
A paisagem continua a brindar-nos, encantando-nos tal como a companhia do grupinho que se formou e fechávamos os caminhantes. Neste momento, agradável surpresa, juntou-se ao grupo, ainda que lesionado num pé, mais um “Friend“, no seu Mercedes, provando que a acção não lhe escapa, não é assim Zeca? Bem hajas pelo “ apoio “; ainda deu boleia ao João (foram reunindo os órgãos sociais…).
As fotos de Grupo impuseram-se, com júbilo de todos.
José Lebreiro
26 de Maio de 2012
3 comentários:
Magnífico passeio que eu gostava de ter feito com o grupo.
Agradeço a partilha generosa das fotografias, generosa como a terra, generosa como o generoso vinho, generosa como as vistas sobre Portugal e Castela e sobre o Doiro, o nosso ri que também se há-de ter visto ao fundo, em qualquer momento da descida.
Obrigado
Resido longe, em Coimbra. Ainda conduzo, mas mal posso andar. Vejo as fotos do vosso grupo e fico com "inveja". Peço por favor, a algum de vós, que me ajude,no meu singelo estudo, trocando e-mails comigo sobre a história e a genealogia de duas famílias de Almendra e Castelo Melhor. Agradecido. Jorge Santos
Peço desculpa
Esqueci-me de informar o meu endereço de e-mail, e aqui o vou deixar, na esperança de poder ganhar 2 ou 3 novos amigos.
paivamansoebelisariopimenta@gmail.com
Mais uma vez vos agradeço
Jorge Santos
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