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12 setembro 2012

VINDIMAS – Miguel Torga



“A grande festa do mosto ia começar. E peregrinos acorriam de longe, chamados pelos acenos das vides.”
Miguel Torga (Vindimas)






Nada melhor que uma visita, nesta época, à região duriense para sentir e partilhar da azáfama, mas também da “festa” das vindimas.

Painel de azulejos da Estação do Pinhão

Painel de azulejos da Estação do Pinhão

Miguel Torga “pintou”, melhor do que ninguém, as vindimas em livro:



VINDIMAS
1ª edição: 1945
8ª edição: 2007

Prefácio à tradução inglesa
Querido leitor:
Vais ler um livro que eu hoje teria escrito doutra maneira. Cingido à realidade humana do momento, romanceei um Doiro atribulado, de classes, injustiças, suor e miséria. E esse Doiro, felizmente, está em vias de mudar. Não tanto como o querem fazer acreditar certas más consciências, num, enfim, em muitos aspectos, e sensivelmente diferente do que descrevi. Desapareceram os patrões tirânicos, as cardenhas degradantes, os salários de fome. As rogas descem da Montanha de camioneta, a alimentação melhorou, o trabalho é menos duro. Também o rio já não tem cachões, afogados em albufeiras de calmaria.
E, contudo, julgo sinceramente que não cansarás ingloriamente os olhos na contemplação do painel que pintei. Conhecer o passado ajuda às vezes a entender o presente. Só com o sofrimento e o protesto de muitas gerações foi possível a relativa dignificação dos assalariados de agora. E, quanto mais não fosse, esses sacrificados merecem a homenagem de uma lembrança. Mas há mais. A recordação do seu martírio será uma lição para senhores e servos. Os primeiros terão no espelho a imagem do que não devem voltar a ser; os segundos, a do que não devem voltar a consentir. Já sem falar na mutação social pretérita e actual. Se certas hierarquias teimam em persistir, os próprios protagonistas fazem o possível por o disfarçar. Tão fortemente sopraram os ventos da História. De maneira que, também nesse capítulo é menor a distância que vai de pobres a ricos, e mais harmonioso o convívio entre eles. O que não deixa de ser igualmente de exemplo e proveito.
 Resta ainda o aspecto puramente literário e artístico da obra. Mas, quanto a isso, já não tenho voz. Serás tu a dizer a última palavra. Se valeu ou não a pena percorrer a via sacra das suas páginas.
Teu
Miguel Torga

Para conhecer os singulares coloridos das “pinceladas” do talentoso Miguel Torga, leia o livro.

Em S. Martinho de Anta - terra natal de Miguel Torga

TERRA NATAL
(…)
Deixei-a num impulso aventureiro
E foi que como se eu próprio me roubasse…
Nunca mais tive paz e fui capaz
De sonhar
Outro lar
Que me abrigasse (…)
Miguel Torga (Revista de Artes e Letras 1962)



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