Evocação de Eça de Queirós
(Aspecto actual da área da Estação de Barca D'Alva) |
Evocação de Eça de Queirós
Um passeio diferente pela Linha do Douro... Uma das mais conhecidas descrições de uma viagem de comboio na literatura portuguesa é feita por Eça de Queirós em «A Cidade e as Serras». Neste passeio se evoca, com as necessárias adaptações, a movimentada viagem de Jacinto, vindo de Paris, até à acolhedora Tormes, vizinha da Régua. Todo o passeio decorre na Linha do Douro, entre Pocinho (estação mais próxima de Barca d’Alva) e Caldas de Aregos.
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Informação útil para planeamento do passeio
Informação útil para planeamento do passeio
Acesso:
Linha do Douro, começando a viagem ferroviária no Pocinho (pode viajar de comboio até aqui a partir do Porto, fazendo, depois o percurso em sentido inverso ou chegar àquela estação usando outro meio de transporte). No entanto, para seguir a lógica do romance, há que começar mais para montante, em Barca d’Alva.
A ter em conta:
Barca d’Alva, estação fronteiriça da Linha do Douro, não tem serviço ferroviário desde 1990, pelo que o acesso terá de ser feito através doutros meios de transporte (carro ou barcos dos cruzeiros turísticos do Douro).
Quando:
Durante a época da floração das amendoeiras (Fevereiro/Março), na Primavera ou no Outono.
Outros pontos a visitar:
Museu e Parque Arqueológico do Côa;
Miradouros de São Salvador do Mundo e Casal de Loivos.
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Uma das partes mais conhecidas de «A Cidade e as Serras» narra o regresso de Jacinto e do seu amigo, da cosmopolita Paris à acolhedora aldeia duriense de Tormes, perto da Régua. Depois de peripécias várias, os viajantes acabam por chegar a Barca d’Alva, ao nascer do dia, percorrendo depois toda a linha do Douro até à estação de Tormes que, na realidade, se chama Caldas de Aregos.
(Chegada a Barca D'Alva de um comboio vindo de Espanha) |
(Locomotivas a vapor na estação de Barca D'Alva) |
O troço final da Linha do Douro entre Pocinho e Barca d’Alva, bem como a ligação daqui para Espanha não são explorados desde 1990. É uma situação que poderá ter alguma evolução, já que a existência de dois Patrimónios Mundiais nas imediações (Douro Vinhateiro e Gravuras do Côa) e as perspectivas de desenvolvimento turístico associadas à reabertura da linha até Salamanca estão a ganhar apoios dos dois lados da fronteira.
Mas, para já, só se chega a Barca d’Alva por estrada ou de barco. É uma povoação tranquila, cuja estação e edifícios são muito interessantes do ponto de vista da memória ferroviária do séc. XIX. Era aqui que Jacinto, acordado pelo companheiro de viagem, exclamava: «Então é Portugal, hein? ... Cheira bem».
(Abril 2011 - Passeio pela reabertura da Linha) |
Mas, para já, só se chega a Barca d’Alva por estrada ou de barco. É uma povoação tranquila, cuja estação e edifícios são muito interessantes do ponto de vista da memória ferroviária do séc. XIX. Era aqui que Jacinto, acordado pelo companheiro de viagem, exclamava: «Então é Portugal, hein? ... Cheira bem».
(Vista sobre Barca D'Alva) |
(Aspecto actual da Estação de Barca D'Alva) |
(Vista sobre o Douro e Quinta da Canameira) |
(Comboio sobre a ponte na Foz do Rio Côa) |
No que ao passeio ferroviário diz respeito, este começa na imponente estação do Pocinho, pintada de amarelo e decorada com belos azulejos de J. Oliveira.
Perto, acessíveis de táxi, as gravuras de Foz Côa, Património Mundial da Unesco (visita mediante marcação prévia).
Há vários comboios por dia, demorando o percurso até Tormes/Aregos menos de duas horas. A viagem permite descobrir dos mais belos panoramas portugueses, assim descritos pelo romancista: «Rodávamos na vertente duma serra, sobre penhascos que desabam até largos socalcos cultivados de vinhedo. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro».
Retenha-se, também, a estação do Pinhão, com esplêndida decoração a azulejo alusiva às vindimas, também da autoria de J. Oliveira, com a vizinha praia fluvial e, um pouco a norte, o inesquecível miradouro de Casal de Loivos. As hipóteses de uma prova de Vinho do Porto não são de enjeitar, nomeadamente no hotel Vintage House. Até à Régua é um festival de vinhas, quintas e socalcos, a não perder.
Passadas Régua (outro eventual bom sítio para alojamento ou refeição) e Ermida, logo aparece a almejada estação de Caldas de Aregos, onde vale a pena descer e seguir as indicações da Câmara de Baião para um passeio queirosiano até à Quinta de Vila Nova que serviu de inspiração ao escritor. «Esperámos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditoso das nossas provações. Ela apareceu, enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com os seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio e por detrás a serra coberta de velho e denso arvoredo...»
Fotografias de vários autores, alguns desconhecidos, recolhidas e adicionadas por Luís Branquinho.
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Perto, acessíveis de táxi, as gravuras de Foz Côa, Património Mundial da Unesco (visita mediante marcação prévia).
Há vários comboios por dia, demorando o percurso até Tormes/Aregos menos de duas horas. A viagem permite descobrir dos mais belos panoramas portugueses, assim descritos pelo romancista: «Rodávamos na vertente duma serra, sobre penhascos que desabam até largos socalcos cultivados de vinhedo. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro».
Na Ferradosa o comboio vai atravessar o Douro e passar para a margem direita. Nesse ponto, retenha para uma eventual refeição o restaurante instalado na antiga estação. Daqui em diante, pontos a reter – e eventualmente a justificar uma interrupção da viagem – são, por exemplo, a passagem junto à barragem da Valeira, dominada, lá no alto, pelo miradouro de São Salvador do Mundo.
(Vista a partir do miradouro de S. Salvador do Mundo - Pesqueira) |
Retenha-se, também, a estação do Pinhão, com esplêndida decoração a azulejo alusiva às vindimas, também da autoria de J. Oliveira, com a vizinha praia fluvial e, um pouco a norte, o inesquecível miradouro de Casal de Loivos. As hipóteses de uma prova de Vinho do Porto não são de enjeitar, nomeadamente no hotel Vintage House. Até à Régua é um festival de vinhas, quintas e socalcos, a não perder.
(Vista do miradouro de Casal de Loivos) |
Passadas Régua (outro eventual bom sítio para alojamento ou refeição) e Ermida, logo aparece a almejada estação de Caldas de Aregos, onde vale a pena descer e seguir as indicações da Câmara de Baião para um passeio queirosiano até à Quinta de Vila Nova que serviu de inspiração ao escritor. «Esperámos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditoso das nossas provações. Ela apareceu, enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com os seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio e por detrás a serra coberta de velho e denso arvoredo...»
Fonte: Comboios de Portugal
Fotografias de vários autores, alguns desconhecidos, recolhidas e adicionadas por Luís Branquinho.
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Leia aqui o livro «A Cidade e as Serras» de Eça de Queirós:
2 comentários:
Convém relembrar que, ao contrário do que algumas opiniões encomendadas por aí apregoam, a reabertura do troço Pocinho - Barca D'Alva é vital não apenas para o desenvolvimento e sustentabilidade da região do Douro como também do país. Tanto mais que no horizonte se perfila o pagamento das SCUT's, nomeadamente a A25, e quando na A4 se pagam e pagarão portagens cada vez mais caras.
O absurdo que representa a ligação do Porto de Leixões a Espanha através da Linha da Beira Alta diz muito acerca das mentes que nos DESGOVERNAM e DESGOVERNARAM.
Ninguém com os "cinco bem aferidos" (de bom senso) conseguirá sustentar tamanho absurdo.
A Linha do Norte está super congestionada e o futuro não pode nem deve passar pelo transporte rodoviário pois além de mais poluente terá os custos agravados devido ao aumento dos combustíveis e ao pagamento das estradas em Espanha e França.
Se o país quiser descongestionar a A25 canalizando 20% do transporte rodoviário pesado de mercadorias por comboio (tal como já acontece na Austria, Alemanha e França), a Linha da Beira Alta não terá capacidade para tal.
Para isso é necessária outra Linha e nada melhor que a Linha do Douro que, além de já estar implantada, retira mais de 100 km ao percurso (tornando-a mais competitiva) e coloca o PORTO em contacto com a região de Castilla Leon onde vive uma população de 2,5 milhões de habitantes.
A Linha do Douro tem no seu percurso nacional TRÊS PATRIMÓNIOS DA HUMANIDADE. Se contarmos com a ligação a Espanha são quatro.
Que país minimamente evoluído desperdiçaria este potencial ?
Aos olhos de muita gente esta reivindicação poderá parecer um insulto quando o que está em causa são coisas que mexem mais directamente com o bolso de cada um de nós. Mas o que nos está a acontecer deve-se ao facto de termos andado a dormir e termos deixado passar debaixo dos nossos narizes decisões gravosas que, aparentemente, não nos afectavam. Vê-se agora o logro em que caímos.
É preciso que os Portugueses saibam que mesmo em tempos de crise há investimentos que devem ser feitos para nos tirar do buraco em que nos meteram.
A história da Linha do Douro é disso prova cabal pois foi construída numa época de grave crise económica e financeira (tal como agora) agravada na região do Douro pela crise vitivinícola provocada pela filoxera.
Não fosse a construção da Linha, a região Duriense teria perecido.
Por outro lado, é importante referir que a luta pela reabertura do corredor internacional ferroviário Porto - Salamanca via Barca D'Alva não é um capricho de meia dúzia de "malucos dos comboios" que, certo dia, acordaram com a tara de reabrir uma linha que está encerrada há mais de 20 anos.
Os argumentos que sustentam esta reivindicação são sérios, justos, estão fundamentados e contam com o apoio de figuras com reconhecidas competências tanto na área dos transportes como na economia, turismo, etc. Inclusive contam com o apoio de pessoas que conhecem a Linha como niguém e já foram responsáveis pela sua manutenção.
A gravidade do momento que o país atravessa não nos deve retirar o discernimento em relação à forma de melhor aplicarmos os dinheiros públicos.
Para grandes males, grandes remédios!
"Loucura é fazer a mesma coisa repetitivamente, e esperar resultados diferentes."
Albert Einstein
Excelente artigo, parabéns.
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