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16 outubro 2011

De Barca d'Alva a Tormes

Evocação de Eça de Queirós

(Aspecto actual da área da Estação de Barca D'Alva)

De Barca d'Alva a Tormes
Evocação de Eça de Queirós
Um passeio diferente pela Linha do Douro... Uma das mais conhecidas descrições de uma viagem de comboio na literatura portuguesa é feita por Eça de Queirós em «A Cidade e as Serras». Neste passeio se evoca, com as necessárias adaptações, a movimentada viagem de Jacinto, vindo de Paris, até à acolhedora Tormes, vizinha da Régua. Todo o passeio decorre na Linha do Douro, entre Pocinho (estação mais próxima de Barca d’Alva) e Caldas de Aregos.

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Informação útil para planeamento do passeio

Acesso:
Linha do Douro, começando a viagem ferroviária no Pocinho (pode viajar de comboio até aqui a partir do Porto, fazendo, depois o percurso em sentido inverso ou chegar àquela estação usando outro meio de transporte). No entanto, para seguir a lógica do romance, há que começar mais para montante, em Barca d’Alva.

A ter em conta:
Barca d’Alva, estação fronteiriça da Linha do Douro, não tem serviço ferroviário desde 1990, pelo que o acesso terá de ser feito através doutros meios de transporte (carro ou barcos dos cruzeiros turísticos do Douro).

Quando:
Durante a época da floração das amendoeiras (Fevereiro/Março), na Primavera ou no Outono.

Outros pontos a visitar:
Museu e Parque Arqueológico do Côa;
Miradouros de São Salvador do Mundo e Casal de Loivos.
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Uma das partes mais conhecidas de «A Cidade e as Serras» narra o regresso de Jacinto e do seu amigo, da cosmopolita Paris à acolhedora aldeia duriense de Tormes, perto da Régua. Depois de peripécias várias, os viajantes acabam por chegar a Barca d’Alva, ao nascer do dia, percorrendo depois toda a linha do Douro até à estação de Tormes que, na realidade, se chama Caldas de Aregos.

(Chegada a Barca D'Alva de um comboio vindo de Espanha)
(Locomotivas a vapor na estação de Barca D'Alva)
(Automotora Espanhola na Estação de Barca D'Alva)

O troço final da Linha do Douro entre Pocinho e Barca d’Alva, bem como a ligação daqui para Espanha não são explorados desde 1990. É uma situação que poderá ter alguma evolução, já que a existência de dois Patrimónios Mundiais nas imediações (Douro Vinhateiro e Gravuras do Côa) e as perspectivas de desenvolvimento turístico associadas à reabertura da linha até Salamanca estão a ganhar apoios dos dois lados da fronteira.

(Abril 2011 - Passeio pela reabertura da Linha)

Mas, para já, só se chega a Barca d’Alva por estrada ou de barco. É uma povoação tranquila, cuja estação e edifícios são muito interessantes do ponto de vista da memória ferroviária do séc. XIX. Era aqui que Jacinto, acordado pelo companheiro de viagem, exclamava: «Então é Portugal, hein? ... Cheira bem».

(Vista sobre Barca D'Alva)
(Aspecto actual da Estação de Barca D'Alva)
(Vista sobre o Douro e Quinta da Canameira)
Comboio a vapor sobre a ponte do Rio Côa
(Comboio sobre a ponte na Foz do Rio Côa)

No que ao passeio ferroviário diz respeito, este começa na imponente estação do Pocinho, pintada de amarelo e decorada com belos azulejos de J. Oliveira.

Estação do Pocinho
(Estação do Pocinho)
(Painel de azulejos na Estação do Pocinho)

Perto, acessíveis de táxi, as gravuras de Foz Côa, Património Mundial da Unesco (visita mediante marcação prévia).

Gravura do Côa
(Gravura do Côa)
(Museu do Côa)
Rio Douro no Saião - Pocinho
(O Douro junto ao Saião)

Há vários comboios por dia, demorando o percurso até Tormes/Aregos menos de duas horas. A viagem permite descobrir dos mais belos panoramas portugueses, assim descritos pelo romancista: «Rodávamos na vertente duma serra, sobre penhascos que desabam até largos socalcos cultivados de vinhedo. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro».

Quinta do Vesúvio
(O Douro no Vesúvio)

Na Ferradosa o comboio vai atravessar o Douro e passar para a margem direita. Nesse ponto, retenha para uma eventual refeição o restaurante instalado na antiga estação. Daqui em diante, pontos a reter – e eventualmente a justificar uma interrupção da viagem – são, por exemplo, a passagem junto à barragem da Valeira, dominada, lá no alto, pelo miradouro de São Salvador do Mundo.

(Vista a partir do miradouro de S. Salvador do Mundo - Pesqueira)

Retenha-se, também, a estação do Pinhão, com esplêndida decoração a azulejo alusiva às vindimas, também da autoria de J. Oliveira, com a vizinha praia fluvial e, um pouco a norte, o inesquecível miradouro de Casal de Loivos. As hipóteses de uma prova de Vinho do Porto não são de enjeitar, nomeadamente no hotel Vintage House. Até à Régua é um festival de vinhas, quintas e socalcos, a não perder.

(Azulejos na Estação do Pinhão)
(Vista do miradouro de Casal de Loivos)
Estação da Ermida
(Estação da Ermida)

Passadas Régua (outro eventual bom sítio para alojamento ou refeição) e Ermida, logo aparece a almejada estação de Caldas de Aregos, onde vale a pena descer e seguir as indicações da Câmara de Baião para um passeio queirosiano até à Quinta de Vila Nova que serviu de inspiração ao escritor. «Esperámos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditoso das nossas provações. Ela apareceu, enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com os seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio e por detrás a serra coberta de velho e denso arvoredo...»



Fotografias de vários autores, alguns desconhecidos, recolhidas e adicionadas por Luís Branquinho.


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Leia aqui o livro «A Cidade e as Serras» de Eça de Queirós:


2 comentários:

Convém relembrar que, ao contrário do que algumas opiniões encomendadas por aí apregoam, a reabertura do troço Pocinho - Barca D'Alva é vital não apenas para o desenvolvimento e sustentabilidade da região do Douro como também do país. Tanto mais que no horizonte se perfila o pagamento das SCUT's, nomeadamente a A25, e quando na A4 se pagam e pagarão portagens cada vez mais caras.
O absurdo que representa a ligação do Porto de Leixões a Espanha através da Linha da Beira Alta diz muito acerca das mentes que nos DESGOVERNAM e DESGOVERNARAM.
Ninguém com os "cinco bem aferidos" (de bom senso) conseguirá sustentar tamanho absurdo.
A Linha do Norte está super congestionada e o futuro não pode nem deve passar pelo transporte rodoviário pois além de mais poluente terá os custos agravados devido ao aumento dos combustíveis e ao pagamento das estradas em Espanha e França.
Se o país quiser descongestionar a A25 canalizando 20% do transporte rodoviário pesado de mercadorias por comboio (tal como já acontece na Austria, Alemanha e França), a Linha da Beira Alta não terá capacidade para tal.
Para isso é necessária outra Linha e nada melhor que a Linha do Douro que, além de já estar implantada, retira mais de 100 km ao percurso (tornando-a mais competitiva) e coloca o PORTO em contacto com a região de Castilla Leon onde vive uma população de 2,5 milhões de habitantes.
A Linha do Douro tem no seu percurso nacional TRÊS PATRIMÓNIOS DA HUMANIDADE. Se contarmos com a ligação a Espanha são quatro.
Que país minimamente evoluído desperdiçaria este potencial ?
Aos olhos de muita gente esta reivindicação poderá parecer um insulto quando o que está em causa são coisas que mexem mais directamente com o bolso de cada um de nós. Mas o que nos está a acontecer deve-se ao facto de termos andado a dormir e termos deixado passar debaixo dos nossos narizes decisões gravosas que, aparentemente, não nos afectavam. Vê-se agora o logro em que caímos.
É preciso que os Portugueses saibam que mesmo em tempos de crise há investimentos que devem ser feitos para nos tirar do buraco em que nos meteram.
A história da Linha do Douro é disso prova cabal pois foi construída numa época de grave crise económica e financeira (tal como agora) agravada na região do Douro pela crise vitivinícola provocada pela filoxera.
Não fosse a construção da Linha, a região Duriense teria perecido.
Por outro lado, é importante referir que a luta pela reabertura do corredor internacional ferroviário Porto - Salamanca via Barca D'Alva não é um capricho de meia dúzia de "malucos dos comboios" que, certo dia, acordaram com a tara de reabrir uma linha que está encerrada há mais de 20 anos.
Os argumentos que sustentam esta reivindicação são sérios, justos, estão fundamentados e contam com o apoio de figuras com reconhecidas competências tanto na área dos transportes como na economia, turismo, etc. Inclusive contam com o apoio de pessoas que conhecem a Linha como niguém e já foram responsáveis pela sua manutenção.
A gravidade do momento que o país atravessa não nos deve retirar o discernimento em relação à forma de melhor aplicarmos os dinheiros públicos.
Para grandes males, grandes remédios!

"Loucura é fazer a mesma coisa repetitivamente, e esperar resultados diferentes."
Albert Einstein

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