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18 outubro 2011

Douro pode deixar de ser Património da Humanidade



Parte da Linha do Tua ficará submersa

Fotografia: Eduardo Pinto
A UNESCO já alertou para a degradação da zona classificada Património da Humanidade, causada pela construção das barragens, nomeadamente a de Foz Tua, em zona limite do Douro Vinhateiro.

“A barragem de Foz Tua vai afectar a zona classificada. A UNESCO já cá esteve a inteirar-se do assunto e, de uma forma diplomática, deu a entender que a classificação poderá ser retirada se insistirem na obra. Não é uma entidade que ande pelos jornais a fazer ameaças, mas já retirou a classificação noutros casos e fa-lo-á no Douro”, afirmou Manuela Cunha, dirigente do Partido Os Verdes.

Aos detractores da barragem, o Ministério da Cultura terá garantido que a barragem não está em zona classificada. Os Verdes consideram que “um edifício de seis andares com 70 metros de comprido [central eléctrica] em plena paisagem do Douro vinhateiro tem, sem dúvida, impacto visual”, além de que “a UNESCO não distinguem o impacto na zona classificada daquilo que, em zona limite, tem impacto na zona classificada”.

Iniciada há poucas semanas, a obra da barragem de Foz Tua tem já consideráveis impactos visuais e no ambiente, tal como a reportagem do Dinheiro Vivo pôde constatar. As escarpas do Tua, feridas pelo Homem, cedem à violência das máquinas e desfeiam-se diariamente. O pó invade as vinhas, dando a ideia de aridez a uma terra fértil que produz dos melhores vinhos do Mundo.

No meio dos socalcos, dezenas de postes em metal quebram o tom à poesia serpenteante da vinha e, à noite, “quando o melhor do Douro eram os milhões de estrelas visíveis graças à natureza impoluta - aquilo que vendemos aos turistas”, a luz eléctrica faz do Douro uma sucessão de “árvores de Natal”. Assim diz um dos produtores da região, pedindo anonimato, com receio de lhe “colocarem uma torre de alta tensão no meio da quinta”. Com excepção da autarquia de Mirandela, que se opõe publicamente ao betão no Douro pelos motivos expostos, todas as outras “calam-se, pois é a primeira vez que isto acontece: as autarquias vão receber 1,5% das receitas das barragens”, revela.

O Vale do Tua será inundado pela barragem de Foz Tua, submergindo para sempre espécies vegetais únicas, prejudicando espécies animais, paisagens de sonho e uma linha de caminho de ferro centenária, cuja exploração turística poderia, à semelhança do que acontece em Espanha, levar desenvolvimento e riqueza a uma região do Interior. “Nunca se viu uma candidatura no IGESPAR, como a que fizemos para a classificação da Linha do Tua, ser aberta e encerrada num mês. Por isso, temos um processo em tribunal contra aquele organismo”, adiantou Manuela Cunha.

A luta pelo rio Sabor, o último rio selvagem de Portugal, não teve êxito. As populações idosas, doentes, isoladas, pobres, perderam vias de comunicação com o resto do Mundo. Aldeias inteiras (e suas memórias) foram submersas pelas águas e recriadas noutros locais. O que não se recriou foram as espécies vegetais únicas, os habitats do lobo ibérico e da águia que nidificava nas escarpas. Uns milhões de euros foram pagos em compensação, tal como está previsto noutras barragens. O documentário “Páre, Escute e Olhe”, do realizador Jorge Pelicano, repetidamente premiado, continua a alertar para o que se passará se a barragem de Foz Tua prosseguir. A primeira pedra, lançada há escassos meses, foi, porém, tomada por Assunção Cristas por “um paredão imenso”, há dias, no Parlamento. Ainda não. Ainda há tempo de emendar um erro trágico.

Populações temem perda irreparável de património natural e histórico que mereceu a classificação da UNESCO como sendo pertença da Humanidade

Fonte: Dinheiro Vivo

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