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10 janeiro 2012

A Barca do Douro, o Porto do Seixo e a Veiga de Santa Maria - Parte I


PARTE I


INTRODUÇÃO

O vale do Douro, desde a fronteira portuguesa, tem uma paisagem bem diferente daquela que existe do lado espanhol; em Portugal forma um vale agreste e profundo que supõe, à partida, um importante obstáculo natural entre o norte e o centro do País - o Douro que separa.

Esta situação não impediu que as vilas criadas na Idade Média a norte do Douro, durante os séculos XII e XIII, tivessem território a sul do mesmo Rio como parte do seu alfoz (Santa Cruz da Vilariça, Urros) - o Douro que une.

As barcas para a travessia do Douro ajudavam a unir, todavia, pelos rendimentos que propiciavam, também dividiam, pois eram alvo de acesas disputas ainda antes do reinado de D. Dinis (monarca que cria os Concelhos de Torre de Moncorvo e Vila Nova de Foz Côa), disputas essas que se estenderiam ao longo de vários séculos.
A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA MEDIEVAL
Numão/VNFC versus Santa Cruz da Vilariça/TM

Para perceber o problema criado em torno da barca do Douro e seu porto anexo, haverá que ter em conta dois aspectos:
  • O económico pois a barca supunha rendimentos muito importantes para o seu administrador e tanto os reis como os particulares, se encarregarão de reforçar ao longo do tempo a sua importância; portanto não estranharemos tais disputas quanto ao seu controle.
  • A imprecisão administrativa do território que favorece o desencadeamento de disputas territoriais.

As disputas centram-se entre os concelhos de Torre de Moncorvo e de Vila Nova de Foz Côa, herdeiros directos de outros dois concelhos anteriores a eles: Santa Cruz da Vilariça e Numão.

Numão seria, quando foi dotada de foral, a única vila importante à sua volta, numa zona onde os limites territoriais seriam claramente imprecisos.

O mesmo ocorreria com Santa Cruz um século depois ao norte do Douro.

Os Concelhos de Santa Cruz e de Urros não se circunscrevem à sua zona natural de expansão (norte do Douro), pois parte dos seus alfozes encontram-se a sul do dito Rio, ocupando uma franja territorial não muito extensa mas significativa.
Certamente que a única forma de aceder a estes territórios era por meio de barcas de passagem.

O aspecto fulcral da disputa centra-se na denominada Veiga de Santa Maria. Trata-se de uma enorme península que, a jeito de esporão, surge na margem esquerda do Douro, penetrando no vale da Vilariça. Devido a esta configuração geomorfológica, dá a impressão de que terras que deveriam estar situadas a norte do Douro se encontram a sul do mesmo. A este factor devemos acrescentar aspectos económicos, já que toda a veiga em si (Monte Meão em todo o seu conjunto) é terra própria para bons cultivos.

(Rio Douro - Monte Meão)

Torre de Moncorvo limita, não pelo Rio mas por terra, com Vila Nova de Foz Côa, na Veiga de Santa Maria.

Esta fronteira de alfozes já vem dos tempos dos Concelhos de Santa Cruz e de Numão que delimitavam os seus termos pela dita Veiga, repartindo-a equitativamente.

A disputa não surge pois em princípios do século XIV entre VNFC e TM, mas vem de trás, protagonizada pelos actores anteriores.


 Continua...                                                                                                                              

                   
Este texto é uma versão resumida do artigo "O Douro, Vila Nova de Foz Côa e Torre de Moncorvo – Duas margens de alguma conflituosidade na Idade Médiada autoria de CARLOS A. F. d’ABREU e JOSE IGNACIO de la TORRE RODRÍGUEZ publicado no nº 0 da revista CÔAVISÃO no ano de 1998.



Nota:
Em relação ao artigo publicado na CÔAVISÃO, foram adicionadas as imagens e feitas pequenas alterações ao texto para permitir a ligação entre as partes que se pretendeu publicar.

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