Resumo histórico do
troço Pocinho – Barca D’Alva
Em 1878 o governo determina ao
diretor da construção dos Caminhos de Ferro do Minho e Douro, para que
procedesse urgentemente aos estudos entre a foz do Pinhão à Barca D’Alva, com
vista à posterior elaboração do planeamento financeiro da obra.
Em 1880 as cortes gerais aprovam o
prolongamento da linha férrea do Douro do Pinhão à Barca D’Alva autorizando o
entroncamento desta com a linha férrea de Salamanca ao Douro.
O governo através do decreto de 23
de Junho de 1880 autorizou a construção do prolongamento da Linha do Douro até
à Barca D’Alva.
O comboio chegou ao Pocinho a 10 de
Janeiro de 1887.
Quatro meses depois, a 5 de Maio de
1887, avança até ao Côa.
Finalmente, a 7 de Dezembro de
1887, o comboio chega à Barca D’Alva. A construção deste caminho-de-ferro
incluiu o percurso entre Salamanca e Barca D’Alva que foi inaugurado no mesmo
dia. Nesse dia houve 4 inaugurações: 1 – Côa
- Barca D’Alva; 2 – Lumbrales – Barca D’Alva; 3 – Porto – Salamanca; 4 –
Ponte internacional.
A questão da OLGA
Em 1888 o clérigo Lucas José Nunes
(abade de Leça da Palmeira), provavelmente natural de Castelo Melhor, publica
vários artigos em defesa acérrima da construção de uma estação na foz do
ribeiro das Pariças em contraponto ao que considerou ter sido um erro a
construção das estações do Côa e da Olga (Almendra). Argumentava o abade que o
sítio das Pariças era o mais natural para a implantação de uma estação dado que
no local havia uma travessia no Douro entre as terras da Beira e Trás-os-Montes, com
barca de passagem, assim como um cais, onde os rabelos carregavam e
descarregavam. A esse porto acediam os povos de ambas as margens através de
caminhos para tal fim existentes, localizando-se a meio caminho entre as desembocaduras
do rio Côa e da ribeira de Aguiar. Considerava por isso que era o melhor local
entre o Pocinho e Barca D’Alva.
Dizia-se que a escolha dos locais
para a implantação das estações do Côa e da Olga (Almendra) tivera a ver com o
facto, no caso do Côa, de ali chegar a estar projectada uma ligação da Linha do
Douro à Linha da Beira Alta, pelos vales do Côa e da ribeira de Maçoeime que
iria entroncar em Vila Franca das Naves.
Facto curioso nesta história, é
saber que essa ideia do ramal do Douro para Sul, na zona do Côa, permaneceu
para além da decisão de avançar com os carris até à Barca D’Alva.
O argumento para a construção da
estação da Olga (Almendra) parece ter sido o seguinte: se temos de construir
uma estação na foz do Côa (tão próxima do Pocinho e tão distante da Barca
D’Alva), então encontre-se um local intermédio entre esta e a de Barca D’Alva,
para erguer outra, negligenciando-se, como se disse, o porto das Pariças.
Parece no entanto ter existido
outra razão para a construção da estação da Olga. Esta terá tido a ver com o
favorecimento de um Visconde (ou seus herdeiros) que tinha uma quinta na Olga e
um Solar em Almendra e que reclamava, agora que a estação da Olga estava
construída, a construção de uma estrada municipal que ligasse Almendra (o seu
Solar) ao caminho-de-ferro (à sua quinta). A propósito disto dizia o abade: “A
colocação da estação na Olga, devida à influência dos donos da quinta, foi uma
fraude, um crime de corrupção, mas a estrada para ali é o sufrágio dessa
fraude.”
Ainda antes, em 1883, já as
freguesias de ambas as margens do Douro haviam manifestado a sua oposição ao
projecto das estações entre o Pocinho e Barca D’Alva reclamando também a
estação nas Pariças. O certo é que esta contestação não demoveu o governo e o
projecto foi mesmo executado.
Mas o abade não se dá por vencido e
em 1888 volta à carga dirigindo-se desta vez ao Ministro das obras públicas ao
qual diz: “Sacrificar assim três povoações às conveniências de uma quinta, por
mais esplendida que ela fosse, é um escândalo intolerável, e que só pode
reparar-se com a colocação de uma estação nas Pariças ou então com a redução
das três povoações a um campo onde os herdeiros ricos plantem vinha. Escolha o
Sr. Ministro, mas pelo amor de Deus, faça cessar o escândalo.”
Ainda em 1888, sem dar tréguas na
luta empreendida, a propósito da estrada para a estação da Olga (Almendra) e a
reclamada estação nas Pariças, o abade considera que a estação da Olga é um
beco sem saída e um facto triplamente injusto e criminoso porque deixava os povos
mais próximos privados do uso do caminho-de-ferro, porque tinha obrigado o
estado a construir e manter duas estações anémicas em lugar em uma vigorosa e,
para cúmulo, ainda se queria obrigar o município a abrir uma estrada para a tal
quinta, quando o que devia ser feito era construir uma estação ou apeadeiro nas
Pariças, onde o transporte fluvial continuava a concorrer com o ferroviário em
virtude da distância das duas estações (Côa e Olga). Terminava o abade o seu
apaixonado discurso dizendo: “Aquela estação da Olga e a sua estrada são duas
peças da mesma fábrica, e completam-se mutuamente. A estação é o poste, a
estrada é a corda para dele pendurar e estrangular nove ou dez povoações!”
A argumentação foi tanta e tão
persistente que o resultado adveio com a construção da almejada estação, não
junto à foz do ribeiro das Pariças, mas um pouco mais a montante, na foz da
ribeira de Aguiar. Esta conquista não deixa de ter um sabor agridoce pois sendo
certo que a estação foi construída esta acabou por ficar privada de uma estrada
de acesso facto que é interpretado pelos historiadores como uma forma de
castigo pela insolência do abade.
Fonte: COAVISÃO Nº 13, 2011
Fonte: COAVISÃO Nº 13, 2011
1 comentários:
O Padre Lucas José Nunes nasceu em Castelo Melhor a 26/09/1830, onde oficiou como pároco até 1878. Depois foi promovido para a Igreja de S. Miguel de Leça da Palmeira, onde também foi Pároco e depois Abade. Faleceu a 23 de Dezembro de 1913 em Leça da Palmeira.
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