O Comboio do Douro
Há um comboio que, da invicta cidade
Sai sempre na procura de um tesouro
Sai sempre na procura de um tesouro
E que anda com prazer e com vaidade
Quando encosta a sua linha ao Rio Douro
Depois de passar em Rio Tinto
Ermesinde, Valongo e Recarei
Atravessa o Vale do Sousa por instinto
E quando chega ao Marco já é rei
Foi linda a viagem até aqui
Toda esta região é um miradouro
Mas na Pala, o comboio até sorri
Quando avista finalmente o Rio Douro
Saúda a linda ponte de Resende
Continua a sua marcha sem dar trégua
E, sentindo-se feliz, ele pretende
Namorar o seu Douro até à Régua
Encontra em Bagúste uma barragem
Que lhe dá ainda maior satisfação
Pois a linha quase encosta à sua margem
Na sua caminhada até ao Pinhão
A marcha para o Tua é bem ligeira
Por entre socalcos de vinhedos
E ao ver a barragem da Valeira
Sente o Douro cantar entre fraguedos
Já pela outra margem deslizando
O comboio vê o Vesúvio vinhateiro
E em Freixo-Mós do Douro vai tocando
Feliz por ter Foz Côa companheiro
Quando já se aproxima do Pocinho
Que é o fim das linhas suprimidas
O comboio e o Douro de mansinho
Resolvem jogar às escondidas
O comboio esconde-se no chão
E o Douro afasta-se da linha
Mas depois de circundar Monte Meão
Vem de novo namorá-lo à noitinha
O comboio diz que está muito contente
A sua felicidade já está salva
Mas se ainda houvesse linha mais à frente
Mataria as saudades que ele sente
De quando ia até à Barca D’Alva
Fernando Marçal/2001
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