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08 fevereiro 2011

A Emigração Portuguesa em França



No presente texto, são apresentados os principais êxodos de Portugal para França, e analisados num contexto político: a Primeira Grande Guerra e a Instauração da Ditadura em Portugal.
A situação política de um País, nomeadamente de Portugal, é decisiva no tratamento global das questões sociais. A questão da emigração pode então, aparecer como sintoma dessa política. Quando analisada faz emergir problemáticas intimamente ligadas com a história social, politica, económica e intelectual do País.

O exílio de intelectuais portugueses em França, que é uma constante na história das relações franco-portuguesas, denuncia, a determinados momentos, um ambiente político austero, constrangedor e inadaptado à emergência de ideias inovadoras, livres e defensoras dos direitos humanos.
Foi num contexto de rigidez política que, já no século XIX, escritores de veia liberal e humanista como Alexandre Herculano ou Almeida Garrett, foram levados pela contra-revolução absolutista em Portugal, a exilarem-se em França.
Foi igualmente um acontecimento político, este de dimensão internacional, que deu lugar à primeira grande vaga de emigração portuguesa: a Primeira Grande Guerra (1916 – 1931). A guerra, como acto político de violência máxima, iniciou uma fase decisiva na história da emigração portuguesa em França. Até aqui, só um número bastante reduzido de intelectuais e artistas o tinha feito. O principal destino da emigração económica era o Brasil. A entrada de Portugal na guerra em 1916, ao lado de França e de Inglaterra, veio introduzir uma mudança radical na escolha desses destinos, com o envio de um corpo expedicionário para França (nas trincheiras de Calais, no Norte da França), composto por 20.000 trabalhadores, recrutados como “mão-de-obra”, no âmbito de um acordo celebrado entre os dois países. Um grande número deles, não regressaria a  Portugal no final da guerra, mandando posteriormente, alguns familiares vir ao seu encontro.                                                                                                                                                                              
A segunda grande vaga de emigração inicia-se após outro acontecimento político, com consequências devastadoras para o País. O Golpe de Estado militar, que em 1926 instala em Portugal uma longa ditadura que perdurará até 1974. Este, introduz um conjunto de restrições sociais que vêm retirar aos cidadãos uma série de direitos fundamentais: proibição do direito à greve, censura, sindicatos ligados ao Estado totalitário, ausência de eleições livres, omnipresença de uma Polícia de Estado, a despolitização das pessoas, a guerra colonial, a miséria, a ausência de liberdade de expressão, ou seja, o fascismo. Uma vez no poder, esta política totalitária inicia uma verdadeira degeneração social, desencadeando a emigração em massa, não só politica como também intelectual, mas acima de tudo, económica. Os anos 1962-66 conheceram o primeiro grande impulso da emigração portuguesa. França torna-se a partir daí, e até aos anos 80, o principal destino dos emigrantes portugueses. Em 1968 havia 500.000 portugueses em França, em seis anos, de 1962 a 1968, o número multiplicou-se por dez. Nos anos de 1969 e de 1970, entraram em França 80.000 trabalhadores portugueses (homens e mulheres), totalizando 120.000 pessoas com os restantes membros da família. Há hoje em França, cerca de um milhão de portugueses,  constituindo uma das mais importantes e numerosas comunidades estrangeiras em França.

Perante estes dados, históricos e sociológicos, podemos propor a seguinte hipótese: a Emigração Portuguesa em França, é um feito social propulsado pelas políticas violentas do Estado Português?  
   
Indicarei, para terminar, a título de curiosidade, um pormenor evocador das relações estabelecidas entre emigrantes intelectuais portugueses e os restantes emigrantes, normalmente operários. Com excepção de Manuel Alegre que viveu e partilhou com outros portugueses, os conhecidos “bidonvilles de Champigny”, as “barracas” em linguagem popular, todos os outros, se mantiveram afastados, desenvolvendo estratégias de demarcação social em relação aos seus compatriotas. Este facto, teve consequências na identidade colectiva dos portugueses em França, já que a sua contribuição, teria transformado a imagem e representação de todo um povo.

Hoje, cientistas, artistas, escritores e poetas, descendentes directos de operários portugueses, inscrevem-se plenamente no espaço nacional francês, uma “mais-valia” que o Estado Português não soube guardar!
 
De: Perpétua Neto

3 comentários:

Este blogue requer a participação de todos os Amigos do Concelho de Foz Côa (ACFC), só assim, poderemos atingir os objectivos ambicionados.
Fomentar, através de iniciativas próprias, a promoção, dinamização, aproximação de todos os ACFC…
Este texto da Perpetua é um exemplo da contribuição que cada um de nós pode dar em prol destes propósitos.

Venham mais e mais…

Obrigado Perpétua.

Tens toda a razão Perpetua quando dizes que o estado portugues não soube aproveitar essa mais valia de alguns luso-descendentes,da mesma maneira o nosso municipio deixou perder uma jummelage que se fazia com Villeteneuse,impedindo que naturais e emigrantes se reunissem em agrádaveis convivios,e não só até no aspecto cultural a vivencia com paises estrageiros é salutar,enfim temos o que queremos.

Lembro-me desse Intercâmbio Cultural que houve outrora, entre Villeteneuse (arredores de Paris, penso) e V.N. de Foz-Côa. Em minha casa cheguei a receber, por diversas vezes,alguns franceses naturais dessa localidade, assim como, alguns Fozcoenses chegaram a ir lá também, e não sei bem porque razão esse intercâmbio terminou.
Lembro-me que havia até uma placa informativa onde se anunciava:"Villeteneuse/Vila Nova de Foz-Côa - Vilas Gémeas"

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