Actualmente uma das palavras mais utilizadas, é: PRESERVAR, Preservar a Natureza.
No entanto, olhamos á nossa volta e o que vemos? A Natureza muito aquém de ser preservada.
Temos como exemplo o Concelho de Vila Nova de Foz-Côa, detentor dos mais belos Pombais durienses e onde se concentra um dos núcleos mais representativos do País.
Os Pombais surgiram a partir de meados do século XVIII, não só em Vila Nova de Foz-Côa, como também nos Concelhos de Vinhais, Bragança e Miranda do Douro.
Representação simbólica
Muitos dos Pombais do Nordeste Transmontano ostentavam sinais exteriores de riqueza e poder, representando a posição social dos proprietários (famílias nobres ou abastadas, clero,...). Noutros casos, evidenciavam uma preocupação estética e decorativa por parte da população rural e um “culto” ao pombo, já que este animal sempre simbolizou a Paz, a Pureza, a Fidelidade e o Divino.
A partir da década de 60, parte da população rural emigrou, desencadeando o abandono de práticas agrícolas tradicionais, nomeadamente o cultivo do trigo, centeio e lentilhas. Os que permaneceram na região, modificaram as suas culturas, mecanizando-as, com recurso a agro-químicos inorgânicos. Face a estas mudanças drásticas, os pombais viram desaparecer por completo a sua utilidade, num contexto de economia rural.
Com o fluxo demográfico para os grandes centros urbanos e a redução do cultivo de cereais, o alimento começa a escassear, passando esta espécie a proliferar nas avenidas de betão. Centenas de pombais tradicionais deixaram de estar povoados e os trabalhos de manutenção dos pombais perderam significado. Os proprietários nunca mais voltariam aos pombais, “pombais que nunca mais voltaram a ter dono”. Os pombais na região duriense apresentam variadas formas e dimensões, mas a maioria são circulares ou em forma de ferradura. As paredes são em pedra miúda, terra argilosa como ligante e reboco de argamassa de cal. A cobertura é de madeira apoiada nas respectivas paredes. O murete ou corta-vento, também de pedra, é frequentemente ornamentado com pináculos de pedra. O acesso ao interior dos pombais, faz-se por uma pequena porta de madeira. No telhado existem plataformas de entrada e saída dos pombos. Ainda que, a sua estrutura seja de paredes rudes e construção sólida, apresentam normalmente uma cobertura em madeira que não resiste às intempéries. Cada inverno que passa engrossa a lista dos pombais em ruínas, empobrecendo gradual e irremediavelmente o património cultural da região.
Hoje, fala-se em agricultura biológica, que mais não é, também, fertilizante orgânico produzido outrora nos pombais, permitindo produções abundantes em vinhas, olivais, amendoais e hortas. Para além disso, o seu interior com construção adaptada, proporcionava o habitat ideal para a sua nidificação, fornecendo ainda aos proprietários agrícolas, a produção de carne (borracho), como complemento á sua actividade agrícola.
Estes pombais distribuem-se pela paisagem mais dispersa
Acções Desenvolvidas
A partir de meados dos anos 90 e perante este panorama negativo, a opinião pública local despertou, e fez com que algumas entidades responsáveis pela preservação deste tipo de Património, promovessem medidas de estudo e conservação.
O Instituto da Conservação da Natureza, através do Parque Natural do Douro Internacional (PNDI), iniciou então, um projecto pioneiro de recuperação de pombais, motivado pela possibilidade de valorizar a paisagem característica desta zona e contribuir para melhorar os recursos alimentares de diversas aves de rapina em risco de extinção. Nos anos seguintes, outras parcerias se seguiram num projecto de revitalização de pombais tradicionais, apoiado pelo Programa LEADER II, que envolveu um investimento de cerca de 5.600€ tendo sido recuperados 70 pombais. Entre 2000 e 2001 a Corane (Associação de Desenvolvimento da Terra Fria) em conjunto com a PALOMBAR (Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste) organizou o primeiro inventário e estudo aprofundado de caracterização arquitectónica e funcional dos pombais nos distritos de Bragança e Guarda. Partindo daí, surgiram mais iniciativas de restauro e reabilitação de pombais através de campos de trabalho com voluntários estrangeiros que contaram com o apoio do Parque Arqueológico do Vale do Côa e de diversas autarquias. Entretanto, alguns proprietários, por sua mão, asseguraram as necessárias obras e repovoamento.
Recentemente mais de 1000 pombais da Terra Fria foram já revitalizados, através de fundos do Programa INTERREG III A, implicando um investimento da ordem dos 300 mil contos. Após os melhoramentos ao nível arquitectónico, segue-se o repovoamento daqueles edifícios, de forma a reiniciar o comércio da carne, que acabou há alguns anos, mas que pode vir a obter algum sucesso ao nível da restauração, através da recuperação de pratos típicos confeccionados com carne daquelas aves.
Perante estas notícias, fica no ar a seguinte pergunta: Quantos e quais os Pombais recuperados no Concelho de Foz-Côa?
Teresa Remísio
Imagens de Adriano Ferreira
2 comentários:
A Teresa presenteou-nos com um tema interessantíssimo, merecedor de uma atenção especial por parte das entidades responsáveis. A recuperação deste património não é uma despesa é um investimento.
O nosso Concelho faz-me lembrar os avarentos, são riquíssimos mas miseráveis.
O nosso Concelho está recheado de coisas boas e bonitas e não sabe o que fazer com elas.
Este oportuno “post” da Teresa é um exemplo disso.
Muitos mais exemplos há, basta que estejamos atentos e descobrimos autênticos tesouros.
Continua atenta, Teresa...
Obrigado.
Boa tarde: tenho um pombalem Foz Coa para recuperar e ainad bastante bem de paredes.
Gostaria de saber para obter informação para conservar. obrigado
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