Add in Facebook

16 março 2011

Reabertura da Linha Pocinho - Barca d'Alva


No dia 9 de Dezembro de 2007, já lá vão mais de três anos, teve lugar no Cais Turístico de Barca d'Alva uma Convenção que reuniu dezenas de personalidades, como o engenheiro Braga da Cruz, o professor Augusto Mateus, o professor Manuel Tão, o engenheiro Ricardo de Magalhães, o doutor Carlos Lages e ainda personalidades espanholas, como a doutora Isabel Jiménez Garcia, presidente da Diputación de Salamanca, entre outras personalidades.
Estavam ainda presentes diversos presidentes das câmaras municipais, representando as vinte e oito autarquias dos seis distritos do Douro.

O grande objectivo que os unia era a reactivação da linha de caminho-de-ferro entre Pocinho e Barca d'Alva, permitindo assim reestabelecer as ligações ferroviárias até Salamanca, Valladolid e daqui até ao resto da Europa.

Desta Convenção nascia a estratégia comum de candidatar a reactivação da linha ao então futuro Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN-2008) e de promover parcerias público-privadas para a viabilidade económica da linha.
A este respeito, o então Ministro das Obras Públicas, Mário Lino, reafirmava a sua concordância com a reabertura da linha, salientando contudo que a mesma fosse explorada pelas autarquias.
Da linha do Douro, o troço entre Pocinho e Barca d'Alva foi o último a ser construído, tendo sido inaugurado em 1887 e, por fatalidade dos homens, viria a ser encerrado cem anos depois, tendo sido uma das vias de penetração para a Europa, designadamente no transporte de mercadorias.

A este propósito, Miguel Cadilhe, economista e ex-ministro da Economia, puxando da sua veia poética, afirmava: «Sempre na linha d'água, fantástico, o comboio rasgava margens, enfiava-se na escarpa, atravessava o rio, dele se despedia em Barca d'Alva, entrava em terras de Espanha, chegava a Salamanca. Pouco mais a norte, a História agarrava-se ao Douro castelhano, Zamora lembrava-nos Viriato e Afonso Henriques, Alcanizes, D. Dinis, Tordesilhas, D. João II, Toro, D. Afonso V. (...) Quem vê agora aquele caminho-de-ferro deslumbra-se de raiva. Ele próprio bem podia ser o Quinto património mundial! (...) Como foi possível construí-lo em 1880? Como foi possível destruí-lo cem anos depois? (...) Como foi possível o municipalismo sucumbir ao centralismo?»

Carlos Lages, à época, presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte afirmava que não havia problemas de financiamento, uma vez que a União Europeia favorecia a revolução ferroviária da Europa, a preservação das linhas ferroviárias em detrimento da obsessão pela via rodoviária que caracterizara a Europa durante muito tempo.

Finalmente, entre muitas boas vontades e outras tantas citações, Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura e do Ambiente salientava que «um dos mais importantes recursos do vale do Douro são as suas singulares e impressionantes paisagens. A reactivação da linha férrea, mesmo que só para fins turísticos, constitui uma forma de explorar tais recursos de forma sustentável...»
................
Mais de três anos passados sobre a Convenção de Barca d'Alva, nada de nada foi feito! A linha Pocinho-Barca d'Alva continua ao abandono completo, sujeita ao vandalismo cruel e ao desinteresse dos responsáveis que continuam a apostar no litoral e nos centros urbanos como única estratégia de desenvolvimento.
Mas a História e os coeficientes de desenvolvimento têm demosntrado, sem a mínima dúvida, que um país não evolui, se o seu Interior se despovoa e abandona. A teimosia no investimento rodoviário apenas tem potenciado gastos insuportáveis de energia importada, contrariando, pelo menos em princípio, as orientações da União Europeia.
Um país e uma nação desenvolvem-se num território que deve ser ocupado e povoado de forma equilibrada e o investimento no Interior não pode ser apenas uma mais-valia para a riqueza nacional, esquecendo os cidadãos e as regiões onde as infra-estruturas se constroem.
Hoje o mundo rural não-agrícola oferece enormes capacidades de riqueza, através do seu património natural e do seu património construído ao longo da sua História, até porque, a partir dos anos oitenta do século passado, é para esta riqueza, que a tendência do turismo mundial se tem orientado.
A linha férrea Pocinho-Barca d'Alva e a sua continuação até Frageneda é um património construído de valor incalculável, não só pela paisagem única no mundo, mas também pela capacidade arquitectónica, demonstrada na construção de mais de 30 pontes e túneis no percurso de apenas 30 quilómetros; por si só é razão suficiente para ser considerada como património de interesse ibérico e até europeu e porque não património mundial, marco indelével da capacidade da engenharia portuguesa do século XIX!
Não bastasse este argumento, o Douro Vinhateiro, as Gravuras Rupestres do Vale do Côa e o seu Museu Arqueológico, bem como a arte Rupestre de Siega Verde, como extensão do Património Mundial do Côa, são motivos mais do que suficientes para que os responsáveis políticos ponham agora em prática toda a boa vontade que expressaram cerimoniosamente na Convenção de Barca d'Alva em 9 de Dezembro de 2007!
.................................
José Ribeiro

0 comentários:

Enviar um comentário